segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Acerca do grandiloquente vazio.

Eu e eu mesma. 
Acordei como se não tivesse dormido. 
A calmaria segue. Deveria estar preocupada. Não estou. Fui ao hospital, fiz exames pré operatórios. O eletro cardiograma. O de sangue. Minha veia é profunda, difícil de achar. Senti dor. Tomei susto com o orçamento, me disseram que está barato. Não acho. Conversei, ou melhor escutei um amigo. Poderia ficar horas escutando, contando que não tivesse que falar. Não tenho vontade de falar. Mas falei, fui gentil. Sorri e me compadeci. Há situações que não tem solução. Resta a solidariedade. Olhei possíveis datas, recomendações de cirurgiões. Já estive em um, tenho mais dois agendados nos próximos dias. Grande bosta. Preciso escolher um. Tanto faz. Acho que deveria desistir disso. Sei lá. Vamos em frente, quem sabe o entusiasmo retorne. Começou a chover e o dia está feio. Senti frio, escolhi a roupa errada pela manhã. Não contava com a virada do clima. Todos dizem que vou adorar o resultado depois. E se não gostar? Não faz diferença. A agenda está complicada. O esmalte da unha está descascando. Deveria tirar, parece desleixo. Já não me importo tanto com o que parece aos meus olhos. Deveria me preocupar com os olhares alheios? Fui resolver outras questões, burocracia. Não há mais senhas, volte outro dia. Amanhã. Não me abalo, está tudo perfeito.
Robôs são assim?
O único que já me cativou foi o R2D2. Guerra nas Estrelas. 
Objetivo. Robôs são objetivos. Robôs não são famosos por sua inteligência. Inteligência artificial. Programada. Era sonho de consumo, o R2D2. Um dia quase comprei. Depois deixei de lado. Mentira. Não comprei porque não tinha dinheiro para gastar com essa bobagem.  Deixei tanta coisa de lado que mais uma não faria diferença. Um padre me disse certa vez que devemos aceitar igualmente nossas decisões e nossas renúncias. Que ambas são opções válidas e que as renúncias são provas de amor. Demorei tanto a entender isso. Custei a entender. Sou lenta nisso de ver amor no que só enxergava sofrimento. Ainda que fossem formas de amor, tinham cheiro de fracasso. Abrir mão, deixar ir... perder sempre. Doía. Não dói mais. Apenas lembro e constato que um dia doeu. Não há rancor nenhum. Tampouco há satisfação.
Não consigo tirar o cheiro das mãos. Ontem fiz camarão e salmão. Está impregnado. Fede.
Já fiz besteira. Fizeram outras tantas comigo. Não estou mais interessada se essa conta fecha ou não.
Quase entendo o porquê de algumas pessoas optarem pela vida monástica. 
Quase sinto inveja do claustro.
Poderia passar o resto da vida assim. 
Elogiaram minha medalha de São Jorge. Ele me protege do mal? Ele mata dragões.
Talvez fosse mais eficaz se matasse cavalheiros. Um falso herói vale tanto quanto um vilão.
Não existem santos na cavalaria, sequer heróis. Tudo lenda. Oratório de aço lotado de infiéis.
Jorge sentou praça na cavalaria. Algo me diz que verei essa novela, queira ou não.
O avast acaba de fazer seu relatório de segurança mensal.
499.138 itens escaneados.
36, 135 arquivos vistoriados
3 deles infectados.
Poucos notariam a diferença. 
Basta um vírus para colocar tudo abaixo.
É engraçado ler isso. 
Soa como drama. Melodrama. Comédia da vida privada.
A maçã podre. A ovelha negra. 
O fio da meada que foi puxado.
Não é nada disso.
Não é nada.
O vazio persiste. 
Em silêncio faço muito barulho por nada. 
Não há marolas na superfície.
Não há movimento subterrâneo.
Apenas o grandiloquente nada.
Pompa e circunstância.
Desconfio que não há vida.
Perdi a vergonha.
É agradável.
Amém.

2 comentários:

  1. Tá,mas me conta:te decidiste a fazer ou não????

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  2. Ai, fui no primeiro cirurgião e não senti confiança não. Amanhã tem outro, vamos ver se com ele me sinto segura. De todo modo... já estou adiantando os exames pré. Quando penso no $$$ que vou gastar nisso me dá até tontura, é o preço de uma boa viagem ao exterior. Espero não me arrepender.
    Já notou, né... tô fazendo a maior tempestade em copo d'água! Medo da faca.

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