sábado, 29 de setembro de 2012

Um pouco de Spinoza na vida.

(Ok, essa é uma vã tentativa de salvar o findi.) 



"Deus não é um manipulador de fantoches."

Vendo (no momento tentando ver) tudo por novas lentes, sob uma nova perspectiva. Relendo Spinoza e agradecendo por sua existência. Thanks, God! Baruch Spinoza, engraçado esse nome, Barush... me lembra barulho e foi o que ele acabou provocando. Qual será a palavra para barulho em holandês? Bem, entre 1632 e 1677 era decididamente Spinoza.
Esse filósofo libertador pertencia à comunidade judaica de Amsterdã e acabou sendo excomungado por heresia, o que é fácil de entender se analisarmos seu pensamento extremamente moderno para a época em que vivia. Para ele eram os dogmas rígidos e os rituais vazios que mantinham o cristianismo e judaísmo vivos, fazendo a primeira interpretação histórica-crítica da Bíblia. Um bom tema para quem gosta de confusão, ainda mais naqueles dias. 
Para ele era impensável que cada palavra da Bíblia tivesse sido inspirada por Deus (sentiu a heresia?) e que devíamos ter em mente a época em que foi escrita bem como as contradições entre seus diferentes livros e evangelhos. Criticar a Bíblia? Uau... haja coragem. Assim sendo acaba por considerar Jesus como um porta-voz de Deus (o que não é pouco para um judeu), e que ele traz em sua mensagem uma verdadeira revolução, uma libertação da rigidez judaica. Jesus é um profeta racional que prega o amor como princípio maior da religião. Não bastasse isso, Spinoza entende que esse amor não é só e tão somente o amor à Deus, mas também o amor ao próximo, o amor ao seu semelhante, o amor entre irmãos - já que todos seríamos filhos Dele. Nem preciso dizer que concordo com tudo isso, claro. Só que o holandês vai além, e diz que o próprio cristianismo se enrijeceu, criando dogmas e rituais rapidamente. Imaginem como essa crítica desceu "quadrada" dentro das sinagogas e igrejas! Sou totalmente anti dogmas, não entendo nem concordo com muitos deles. Quanto aos rituais, tenho que dizer que apesar de tudo, hoje entendo a importância deles para a humanidade. Ritos de passagens, apesar de tudo, são importantes e muitas vezes necessários. Em algum lugar dentro de nós toda aquela aparente bobagem ritualística gera um efeito calmante, e as religiões (todas, sem exceção) sabem disso. Os seres humanos não são apenas inerentemente sociais, como também gostam (precisam?) de rituais e rotinas para se sentirem bem. Um exemplo clássico dessa necessidade são as cerimônias de funeral, o enterro, as missas, o luto... por mais diversas que sejam em cada religião, todas são marcantes e reconfortantes para os que precisam aceitar a perda de alguém querido. Até para um ateu, e materialista convicto, o último adeus é importante, já que para ele ali finda tudo o que entende por vida.
Continuando com o encrenqueiro Spinosa (adoro encrenqueiros!), ele pede que pensemos em nós e no mundo num tempo infinito. Mais que isso, que além de pensar, possamos sentir que somos apenas uma ínfima parte de toda natureza, como uma pequenina onda num oceano sem fim. Imagina a loucura de afirmar (em mil seiscentos e bolinha...) que tudo o que existe é a natureza, que Deus está em tudo que existe e que tudo que existe está em Deus. Isso é panteísmo puro, traduzido de uma forma mais sofisticada, obviamente.
Deus não seria um ente em separado, que criou o mundo e descansou no sétimo dia, estando apartado de sua criação. Não, nada disso. Deus é o mundo.
Paulo disse: "... porque nele vivemos, nos movemos e existimos..." Nele quem? Em Deus. No mundo.
Em sua maior obra, A ética fundamentada pelo método geométrico, o pensador trata ao mesmo tempo da arte de viver e da moral (que é a ética em sua concepção maior) referindo-se à linguagem ou à sua forma de representação. Spinoza é tão racional quanto Descartes (que pregava uma reflexão filosófica baseada em conclusões lógicas - o método matemático na filosofia) e afirma que a vida de todos é governada pelas leis da natureza, e que só libertando-se de seus sentimentos e sensações (irracionais) vai encontrar paz e ser feliz. 
Essencialmente monista (acreditava em uma mesma e única coisa ) acredita que a realidade é feita de uma única substância, que ora denomina como natureza, ora como Deus. Além disso, ao usar o termo natureza, não prende-se apenas ao seu aspecto físico, material, para ele natureza é inclusive o imaterial, o espírito. Não se pode negar que há um forte componente determinista (tem que ser assim) e estóico no seu pensamento. Sendo Deus a própria natureza, é díficil para o ser humano ver-se livre de suas leis. É aquele momento em que nos damos conta que algo aconteceu pq faz parte da "natureza" humana e é assim mesmo, aceitando os fatos da vida com tranquilidade, sem se deixar levar pelos sentimentos. 
E a liberdade e inteligência humana onde ficam? E o livre arbítrio? E as escolhas pessoais?
Pois bem... aí está o X da questão espinhosa (desculpem o trocadilho pobre, não resisti).
Para Spinoza o ser humano é livre. Livre no sentido de que possui plena liberdade para desenvolver todas as possibilidades de que lhe são inerentes (não queira nem espere que uma macieira gere morangos, em outras palavras). Nossa evolução pessoal é dependente de circunstâncias diversas (e naturais) como as políticas, educacionais, familiares e até nutritivas. A pressão exterior é capaz de nos tolher, gostemos ou não. Apesar disso (das leis da natureza) somos regidos  também pelo nosso potencial interno. Só quando pudermos desenvolver livremente as nossas possibilidades inerentes (sendo uma macieira, gerar boas maçãs) é que poderemos viver como pessoas livres. Aceitar que que não irá frutificar morangos, peras ou abacates é essencial para a tranquilidade e eventual felicidade da macieira. Enfim, não dá para ser livre sem primeiro aceitar sua própria natureza (estou sendo botânica demais?).
Citando o autor: "Um ser é a causa completa e absoluta de si mesmo." Podemos aspirar à liberdade de viver sem pressões exteriores, mas nunca chegaremos a um pleno livre arbítrio. Nem todas as escolhas e opções que fazemos são totalmente nossas, não há como negar a influência do mundo exterior. Paixões, ambições, prazeres e desejos humanos nos impedem de viver em harmonia verdadeira. Reconhecer, porém, que tudo acontece pq tem que acontecer, acaba por nos levar a uma compreensão racional (e ao mesmo tempo intuitiva) da natureza como um todo. Ver as coisas, a nós, os outros e o próprio mundo num mesmo golpe de vista, sob a perspectiva da eternidade.
Resumindo: onde estão as lentes oculares de Spinoza?!?



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