terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Semifelicidade conjugal. Isso existe?

A pouco terminei de ler um livro instigante: Marriage Confidential, de Pamela Haag. Ele aborda o conceito de casamentos semifelizes. Upa, que novidade é essa? Segundo a autora existe muito mais do imaginamos entre o tal casal perfeito (ou feliz) e o casal em crise. Nessa faixa nebulosa encontram-se os semifelizes, os nublados, os casamento de pais, os que só existem em porta retratos, os que evitam conflitos... existe uma gama imensa de tipos e subtipos de casamentos - de papel passado ou não. Enfim, entre os felizes para sempre e os que brigam feito cães e gatos... tem muito mais do que imaginávamos em nossa vã filosofia.
O termo semifeliz é meio assustador, fica parecendo algo meia boca, mas convenhamos que é melhor do que um infeliz, miserável ou insonso. Como seria então essa tal semifelicidade conjugal? Pelo que entendi - dentro de meus parcos recursos - semifeliz é aquele casamento que tem seus altos e baixos, suas virtudes e defeitos, momentos de alegria e de insatisfação. Resumo da ópera: é um casamento real, estilo a vida como ela é. Os parceiros já sobreviveram aos tão falados bons e maus momentos, saúde e doença, tropeços e conquistas e depois de muitas alegrias e tristezas chegaram a conclusão que vale a pena prosseguir, ainda que não acreditem mais em contos de fadas. Sim, a fase de ver o mundo com óculos cor de rosa acabou, e isso não é ruim. Identificou o tipo? Sei não, mas algo me diz que esses tais de semifelizes são a maioria. A autora diz que é normal qualquer relacionamento passar por fases de semifelicidade, seriam as tais calmarias... nada de euforia, mas também nenhum drama rolando. O problema é quando o casamento fica estagnado aí. Relacionamentos precisam de uma chacoalhada de vez em quando, pessoas precisam de desafios e motivações para dar o melhor de si. Superar períodos complicados ou ter momentos tórridos de paixão acabam se equivalendo em importância quando o assunto é sair do marasmo.
Não é difícil saber se estamos num desses períodos de nem lá nem cá emocional. Nesses tempos um dos envolvidos - ou até os dois - costumam racionalizar demais sobre a relação, entram numa fase de pesar vantagens e desvantagem da vida a dois, invejam os solteiros e sentem falta dos tempos de farra inconsequente. Vão dormir pensando em separação e na manhã seguinte riem da idéia pois nem se imaginam sem o companheiro. São dias tempestuosos internamente, alguns conseguem disfarçar bem, outros caem numa melancolia sem motivo ou ficam extremamente irritáveis. Sinais inequívocos de que tem algo errado acontecendo... não se deve confiam em águas paradas. Quem está do lado de fora em geral nem percebe que tem algo acontecendo, são para todos o típico casal feliz de propaganda de televisão. Pior ainda, se um dos cônjuges estiver feliz e o outro semi... pode nem se dar conta, atribuindo aquela fase de mau humor ao stress do trabalho, por exemplo. Se não souberem conduzir bem o barco... a coisa pode ficar feia e acabar em um divórcio prematuro e impensado. Quando isso acontece é uma verdadeira tragédia no círculo familiar e social do casal que não entende como aquele casamento ma ra vi lho so pode acabar, assim de repente. Só que nada, ou quase nada, é assim de repente. Aquela estagnação em alto mar já tinha feito aniversário e os dois ou não se deram conta ou não estavam mesmo a fim de se mexer para fazer a canoa sair do lugar. Não tem opção, se não tem vento ou maré a favor os dois precisam arregaçar as mangas e trabalhar a relação, uma boa comunicação e uma boa dose de sensibilidade e comprometimento é necessário nessa hora. Só amor não segura um casamento é preciso muito mais, é preciso paciência, compromisso e dedicação, amizade, interesses e valores em comum e muito respeito. 
Uma coisa que costuma atrapalhar bastante o sucesso dessa passagem pelas fases de semifelicidade é a tal da expectativa. Quanto maior o nível de expectativa e ilusão com o outro e o casamento, pior. É o tal, quanto maior o sonho, maior o tombo. Ao contrário das antigas gerações, somos uma turma bem mimada que cresceu sem enfrentar grandes guerras, desastres ou dificuldades. Acabamos acreditando que merecemos - pelo simples fato de respirarmos - tudo de bom e de melhor que a vida pode nos oferecer. Se algo nos desagrada, dispensamos sem pensar duas vezes. Isso tem sido um desastre no nível familiar, já casamos pensando... Ah, se não der certo me separo e pronto. Muitos sobem no altar e entre votos de amor eterno e até que a morte nos separe já vão imaginando o que fazer para se proteger (e garantir seus bens) em caso de uma possível separação. Não tem como dar certo, tem? Não estamos acostumados a ouvir não, a enfrentar obstáculos e com isso não sabemos lidar com a frustração do fim da lua de mel. A grande maioria dos divórcios ocorre no famoso período de sete anos de casamento e isso não acontece à toa. Vencido o famigerado primeiro ano, que pode ser bem complexo devido às inúmeras adaptações exigidas ao dois pombinhos, o próximo grande desafio é ultrapassar a barreira dos sete anos... justamente porque nessa fase costuma ocorrer um daqueles baita momentos de marasmo a dois. Haja força de vontade para remar e não deixar entrar água nesse barco prestes a encalhar.
Outro tipo de relação citada foi o tal casamento dos pais, onde o foco central deixa de ser o casal e a energia de ambos (ou mais de um, a dinâmica pode ser unilateral) e passa a se concentrar nos filhos. Claro que nem todo casamento existe por conta da prole, o que não falta na praça é exemplo de casais sem filhos que estão juntos e bem. E em contrapartida também existem filhos sem pais casados, muitos que os pais nunca estiveram nem por um instante casados, são tempos modernos e não se discute fatos, eles existes para ser constatados e nada mais.  Mas, no caso em questão filhos são necessários, aliás são primordiais, quase o motivo existencial da manutenção do casamento. Toda energia física e emocional dos pais é destinada à criação dos rebentos, de tal forma que não sobra nada para os dois. Eles são pais vinte e quatro horas por dia, inclusive entre quatro paredes e entre os lençóis da cama. Tamanho empenho na criação dos filhos nunca foi vista antes, é consequência direta dos novos psicólogos e pedagogos pós anos setenta. Um desequilíbrio que está gerando pais subservientes e ansiosos e filhos que são pequenos imperadores, ainda mais mimados e mal acostumados do que a geração anterior (a nossa). Tem algo de podre no ar e não é no reino da Dinamarca, é aqui mesmo... dentro dos nossos lares e debaixo dos nossos narizes. Casamentos passam sim por períodos em que o desgaste devido às preocupações e ocupações com a criação dos filhos, principalmente quando são menores, é grande. São tempos de provas onde nem tudo são flores. Apesar de cansativo é preciso saber encontrar um meio termo e uns instantes de paz para então pendurar os casacos de papai e mamãe e ir curtir só os dois. Nem que seja depois de botar os pirralhos para dormir. E para a felicidade geral do casal e pela saúde dos pequenos que essa hora de dormir seja cedo... não tem nada melhor do que filhos na cama antes das nove da noite, acredite!  Casais que persistem só por conta dos filhos ficam encalhados em verdadeiros bancos de areia (movediça) emocional. Síndrome do ninho vazio é pouco para eles... perdem totalmente o sentido da vida quando as crianças crescem e des-aparecem. Essa onda de filhinhos morando com os pais até os trinta e poucos anos em uma adolencencia sem fim é só um exemplo dessa loucura. Tudo bem que amor de pai e mãe não tem limite e coisa e tal... mas sufocamento e mega protecionismo não faz bem a ninguém. Dê o exemplo e tenha vida própria, um espaço independente e cultive os momentos a dois - sem fraudas, bicos e bichinhos de pelúcia enquanto é tempo.
Sobre os tais casais que evitam brigas, conflitos e correm de uma discussão como o demo da cruz... achei um dado interessante. Um nível menor de conflitos, em número e intensidade nos primeiros anos de casamento costuma ser repetido ao longo dos anos, gerando uma carga de rancores e arrependimentos menores. Então segurar a onda quando dá aquela vontade de quebrar tudo e rodar a baiana acaba fazendo bem para relação. Discutir a relação sim, levar o barco para mares furiosos não. Espere o dia raiar e depois de respirar mil vezes, mil e uma se for preciso... chame seu parceiro para avaliar a situação e encontrar uma solução para os problemas. Tripulação em pânico ou tendo ataques de fúria não vão longe. A vida no mar, assim como a vida a dos, exige autocontrole e muita perícia. Se tiver que mudar de barco procure pelo menos chegar são e salvo ao porto mais próximo e terminar com civilidade a relação. Nunca se pode saber se depois de algum tempo, navegando em águas desconhecidas, vamos sentir falta daquela primeira canoa em que entramos. As estatísticas mostram que após o primeiro divórcio, quando há (se há) um segundo casamento... esse costuma ser ainda mais frágil e durar menos tempo, ou seja... o que se vê é uma série de fracassos amorosos e contratos rasgados numa velocidade cada vez maior.  Manter aberta a possibilidade de retomar ama boa relação com antiga sociedade marinha não é mau negócio, mesmo porquê não há nada igual ao primeiro amor. A vida prova que apesar dos pesares o primeiro amor é, senão o único, o mais forte e verdadeiro. Velejar ao lado de quem amamos e confiamos dá outro sabor à vida.  E nos dá força para atravessar os momentos semifelizes que com certeza virão. 
Gostei do livro, recomendo.

 

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