sábado, 2 de agosto de 2014

"Equívocos" apenas "equívocos".... sobre Israel e Palestina.




Os primeiros parágrafos do texto deste fim de semana em O Globo "A fraqueza de amar", de Cacá Diegues, reitera algo que eu já venho desconfiando há alguns anos. Boa parte da intelectualidade brasileira, gente de bem e preocupadas com o bem estar-mundial, têm um conhecimento errôneo dos fatos históricos ligados à criação do Estado de Israel.


A julgar pelo texto, até 1947 praticamente não havia judeus na região, somente palestinos que viviam lá há séculos. Ainda segundo as entrelinhas do texto, a ONU, comovida com o holocausto na Europa, perguntou aos judeus sobreviventes aonde eles queriam ir morar e a resposta foi na terra de Israel bíblica. A ONU então teria proposto a Partilha da Palestina, pela qual os palestinos que vivam nas áreas designadas aos judeus teriam que abdicar de suas terras e seus lares para acomodar os judeus sem-lar que viriam da Europa. Os árabes não aceitaram serem expulsos, os judeus teriam ido assim mesmo, e a briga teria então começado.

Ocorre porém que nada do que narrei acima ocorreu. Se houvesse ocorrido, como explicar então os seguintes fatos (todos de fácil confirmação hoje em dia com Wikipédia e Google): Tel-Aviv foi fundada em 1909. O primeiro kibutz israelense também. No momento da partilha da Palestina pela ONU, viviam na região cerca de 600.000 judeus, um terço da população. O conflito armado entre árabes e judeus começou em 1920.

Outros detalhes: a Partilha da Palestina se deu a pedido da Grã-Bretanha, que não mais queria controlar a região. Os britânicos governavam a região desde após a Primeira Guerra Mundial, através do Mandato Britânico da Palestina concedido pela ONU em 1922 (antes disso, a região era parte do Império Turco-Otomano). Assim que a Partilha de Palestina não se deu por causa do holocausto.

O plano para a partilha da ONU não previa ou pretendia o deslocamento de nenhum árabe de seu lar para dar lugar a judeus. Não havia necessidade (nem vontade), uma vez que já havia uma comunidade judaica na região (um terço da população, repito), com suas próprias terras. A partilha foi demográfica. O que causou o problema dos refugiados palestinos que se seguiu foi o pedido dos países árabes de que esses deixassem seus lares às vésperas da guerra de 1948. A intenção do Egito, Jordânia e Síria com essa guerra era de destruir o recém nascido Estado de Israel, após então os refugiados voltariam aos seus lares. Esses países não contavam com a vitória israelense, assim que esses refugiados até hoje assim o são. Os árabes que não deixaram seus lares receberam a cidadania israelense e seguem vivendo até hoje em suas terras em Israel.



Não é a primeira vez que escuto um intelectual brasileiro contar a História desse ponto de vista equivocado. Na verdade, já ouvi isso pelo menos cinco vezes. Estou certo que Cacá Diegues e a grande maioria da intelectualidade brasileira são pessoas bem intencionadas e não deturpariam a História propositadamente. Por algum motivo, essa deturpação da História vem passando de um para outro, entre jornalistas, artistas e pensadores, até que se tornou uma nova realidade.

É muito importante se atentar a esse "detalhe", pois se pensasse que assim se passou a História, eu mesmo seria contra Israel. Talvez muitas pessoas de bem são contra Israel por causa desse equívoco.

Como explicar a eles da maneira mais efetiva?


by Renato Keshet

2 comentários:

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