quarta-feira, 14 de maio de 2014

A queda de Lisarb arb arb...

(replicando texto que achei ó-te-mo)

A Queda de Lisarb
É bebé... quando as coisas saem do script, realmente fica assustador.

No ano 171 d.C., o Cônsul Silvius Ignacius, governador de Lisarb, região ao sul de Roma, resolvera solicitar a organização do Torneio Mundial de Gladiadores, que era realizado pela FIGA (Federação Internacional de Gladiadores Associados), em seu território. A luta de gladiadores era a alegria, a paixão e o motivo de orgulho da população de Lisarb.
Lisarb era uma território em crise. A corrupção ocorria em diversas camadas de sua estrutura política: no Senado, nos Tribunais e até entre o seu próprio povo. Quando fundada, 514 anos antes, sua ocupação territorial visou mais a exploração de suas riquezas do que o desenvolvimento de uma sociedade que levasse ao crescimento da região.
No entanto, o Cônsul Silvius Ignacius, conseguiu, com a ajuda CLG (Confederação Lisarbiana de Gladiadores) – uma organização particular de homens que fazem negócios com os combates de gladiadores de Lisarb -, que o território fosse escolhido como sede do próximo Torneio. O povo comemorou, afinal, nenhum outro território tinha tantos títulos de campeão do esporte – tinha até o maior lutador de todos os tempos, conhecido como Rei Elep. Seus gladiadores era valorizados de tal maneira que viviam com luxo e riqueza nos melhores palácios de Roma, da Gália e de outras regiões mais ricas. Poucos viviam em Lisarb, pois as premiações por vitórias e o estilo de vida era muito melhor em outras regiões; mesmo assim o povo comemorou, pois via no Torneio uma grande oportunidade de melhoria de vida. Mesmo sabendo que deveria ter um grande investimento para receber o torneio, todos acreditavam que o retorno seria infinitamente maior. A maior parte de sua população acreditou nas promessas do Cônsul Silvius Ignacius de que não seriam utilizados recursos dos cofre públicos, alimentados pelos tributos arrecadados por seu governo – foi anunciado que apenas se gastaria com infraestrutura. Consul Silvius dizia que todos os recursos para investimento viriam dos comerciantes e banqueiros. Dizia também que haveria um legado que iria melhorar a saúde, o transporte, a segurança, a educação etc., e que o Torneio iria trazer muitas moedas de ouro para o povo de Lisarb.
Os anos passaram e as obras para construção das arenas seguiam em um ritmo lento. Surgiam denúncias de todos os lados de desvios e superfaturamento na compra de material de construção. Os investidores não injetaram suas riquezas e o governo de Silvius Ignacius recorreu aos baús de moedas dos tributos do povo. Moedas tilintavam e não faltava para as obras das arenas, porém, nada era investido na infraestrutura do território. O sistema público de saúde estava falido: pessoas morriam sem atendimento e por falta de remédios e equipamentos; a segurança se agravou e os criminosos dominaram Lisarb, transformando o território em um dos lugares mais violentos de toda Antiguidade Clássica. Não havia investimento na educação, no saneamento básico e no transporte público. Embora a gastança do governo de Silvius Ignacius não deixasse faltar recursos para o Torneio, o retorno com melhorias para o povo não surgiu.
Como as leis de Lisarb exigiam um rodízio de cônsul, Silvius Ignacius convenceu que sua partidária fosse a nova escolhida. Seu nome era Cunegunda Dímila Russefila, e foi a primeira mulher no mais alto posto político de Lisarb.

Centenas de promessas foram feitas no Governo de Cu, como era carinhosamente conhecida, mas nenhuma foi cumprida. Absolutamente nada. Todos os investimentos foram para as obras do Torneio. Os portos estavam sucateados mas o Governo de Cu preferiu investir na construção de um porto em uma ilha governada por um ditador terrível que há anos governava sob uma ditadura bárbara e cruel.
O Governo de Cu foi controverso. Surgiram escândalos após outros. Moinhos e outras fontes de riqueza estavam em crise por dívidas, desvio de faturamento, investimentos mal feitos e incompetência administrativa. A consulesa, sempre amparada pelo ex-cônsul, Silvius Ignacius, se amparou em políticas em que doava umas moedas para os pobres, como esmola e passou a distribuir cargos para todos os membros do Senado e seus familiares. Além disso, os banqueiros e comerciantes ricos de Lisarb, faturavam cada vez mais. Dessa forma ela conseguia se manter no poder aprovando suas propostas para se tornar uma ditadora vitalícia. Porém, boa parte da população se voltou contra ela e o Governo de Cu começou a cair. Para complicar sua vida, os prazos estipulados para entrega das obras estavam todos vencidos e com a proximidade do Torneio passaram a maquiar os problemas das arenas e das localidades que teria circulação de estrangeiros. Cu ordenou que milhares de soldados e divisões de exército isolassem as regiões mais pobres e perigosas para que os estrangeiros não corressem riscos que viessem a prejudicar a imagem de Lisarb. Era tanta violência que as pessoas começaram a fazer justiça com as próprias mãos, tamanha era a dificuldade do governo e seus aliados em combater a criminalidade descontrolada da região.
A FIGA, órgão estrangeiro que organizava o Torneio com o auxílio da CLG, passou a divulgar a preocupação com a possibilidade de fracasso dos jogos, fato nunca ocorrido anteriormente, e passaram a influenciar e pressionar políticos locais para aprovação de suas leis - todas favorecendo unicamente a FIGA, a CLG e ao Governo de Cu. Dessa forma aprovaram leis que os favoreceram, como: isenção no pagamentos de tributos, proibição de manifestação da população local, proibição de vendedores não associados de venderem seus produtos, além de receber 100% na venda de entradas para assistir aos jogos.
Cunegunda passou a ser seriamente criticada, até porque a população se deu conta e passou a questionar sobre qual seria a utilidade daquelas arenas após o fim do Torneio. Também se indignaram com os custos das obras – gastou-se mais do que na construção da Torre de Babel, nos Jardins Suspensos da Babilônia, no Coliseu Romano e nas Pirâmides Egípcias, somados. Só na região de Ailisarb, que tinha como governo local um membro do Governo de Cu, chamados Agnulus, a arena local consumiu bilhões de moedas de ouro, sendo que lá nem torneios de gladiadores de destaque ocorriam; e com o problema da criminalidade que cresciam em passos largos sem que Agnulus tomasse qualquer tipo de providência. Não precisavam usar ábacos para concluir que o Torneio consumiu mais moedas de ouro do que os quatro torneios realizados anteriormente em outras regiões, somados.
A população irritada, indignou-se mais ainda quando viu gladiadores ídolos da história de Lisarb, publicarem notas dizendo que “não se fazia um torneio com hospitais”; e “mortes são normais mas não podemos ter problemas nos portos para mobilidade dos estrangeiros”. Até o ex-cônsul Silvius Ignacius deu uma declaração irritado dizendo que “reclamar do Torneio por causa da falta de hospitais, era um retrocesso”. Para agravar, milhares de moedas de ouro seriam distribuídas para membros do Senado e outras áreas da política, para que pudessem viajar, se hospedar, comer e assistir às lutas - tudo às custas do tributos pagos pelo povo. A população revoltada saiu às ruas para manifestar, de forma pacífica, sua insatisfação, porém, por causa de elementos infiltrados que promoveram arruaça e depredação, a manifestação foi diminuído e perdendo o seu caráter e sua força: “o gigante acordou mas logo voltou a dormir”.
Chegando a hora do Torneio, Lisarb se dividiu entre os “pró” e os “contra”. Seu povo era fanático pelas lutas de gladiadores e poucos se importaram com os gastos do Governo de Cu. Alguns até se posicionaram contra, mas preferiram esquecer de tudo e torcer pela sua seleção de gladiadores. Outros se questionaram até que ponto não torcer por seus gladiadores seria deixar de ser um patriota; e também se esses gladiadores milionários, e morando em outras regiões seriam os verdadeiros representantes do povo de Lisarb. Era comum os “prós” brigar e falar que os “contra” eram chatos e ‘reclamões’. Diziam ainda que o que importava é ser campeões! O que valia era a diversão, o Torneio e a alegria do povo com seus gladiadores! Gritavam: “Viva Lisarb-arb-arb-arb”.
O final dessa história se perdeu através dos séculos, mas não é difícil imaginar que o Torneio ocorreu gerando muitas brigas, muito vexame, muito mais roubalheira e deixando uma crise econômica que afetou a vida de todos – tanto daqueles que se manifestaram contra os gastos abusivos do Torneio do Governo de Cu, quanto daqueles que só queriam se divertir e ver a espada entrar no adversário para comemorar mais um título para a Seleção de Gladiadores de Lisarb.
Claudium Marcellum

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