Conselhos sentimentais no caixa do supermercado.

Daquelas coisas que... só acontecem comigo.

Corre pra cá e pra lá. Passa no super (mercado) na hora do almoço pra modi prover a alimentação das fias. Como é terça, tá vazio. Pego o pouco que preciso e vou pra fila. Oba, só tem um carinha na frente. Comprando um chuveiro. Obrigadinha, anjo da guarda! 

Claro que... deu xabú (é com x ou ch?). Carinha todo imbuído dos seus direitos de consumidor fulo da vida pq o chuveiro que queria comprar -  na promoção anunciada no planfleto da loja - estava com preço errado. Ai, ai... E ficam lá, o carinha e o moço do caixa discutindo sobre a morte da bezerra enquanto o povo do setor tenta solucionar o causo. Como estou num dia de super mega paciência, e como já... tinha tirado tudo o carrinho (pensando bem, não era tão pouca coisa assim), larguei os dois ali e fui passear pelos arredores. Fui, voltei. Tudo na mesma. Fui de novo, voltei mais uma vez... e os dois ainda lá, discutindo sobre o dia que o mar vai virar sertão e vice versa. Resolvi entrar no furdunço. Sabecomé? A-do-ro uma encrenca. Então éramos três a palar sobre a extinção iminente do tigre azul acetinado do noroeste oculto da Bismãnia. Concordamos que seria legar tirar foto do preço e do objeto em litígio só pra fazer mimimi no face e, eventualmente, entrar com reclamação no procom... Terminamos manifestando nosso apreço ao sistema capitalista selvagem duzamericanos onde você é mais respeitado que o rei dos tronos, enquanto consumidor. Ambos já tivemos experiências maravilhosas em comprar-devolver-receber dindim de volta em supermercados gringos. 

Pensei que estava tudo encerrado quando carinha do chuveiro foi embora. Era só passar minhas compras, pagar e ir-me embora pra Pasárgada. Nada disso. Mocinho do caixa com cara de Madonna me adota (xerox do Jesuiz Lux) me solta essa inocente pergunta. Posso pedir a opinião da senhora sobre um caso? Ok, meus sais... Estou mesmo com paciência hoje. Deve ter algo a ver com a conjunção astral, sei lá... 

Olhei pro mocinho e mandei, inocente: Claaaaaaaaaaaaaro! 

O Madonna me adota era  assim... só faltavam os zóios claros.

Em vez de uma consulta jurídica (esperava isso) ele me vem com um caso rocambolesco de amor. Olhinhos do mocinho em sofrimento agudo de amor me comoveram, fiquei ali ouvindo, ouvindo, aff... Euz e minha cara de psicóloga. Ou de tia véia. Ou de tia véia com diploma imaginário de psicóloga. Graças a God não tinha ninguém no super, pois senão o mocinho ainda corria o risco de ser demitido, primeiro dia de trabalho e fazendo consulta sentimental com cliente?!? Sorte que não passou nem um supervisor na hora... Acho que fiquei bem uns 15 minutos lá ouvindo o drama, cheio de vais e voltas, dor e ciúme. Quem nunca sofreu por amor que atire a primeira pedra! Tirei lá do fundo d'alma o papel de mediadora de corações partidos e tentei por panos quentes. Fui toda querida, na base do "quem ama, perdoa", "quem ama, não faz birra", "que é preciso dialogar e respeitar", etc... Euz, toda trabalhada na função de conselheira sentimental! E ele, numa tristeza de dar dó.  Para piorar amanhã é o aniversário do moço e sua amada não liga, não telefona, não manda sinal de fumaça faz três dias. Será que reatarão? Eis que chega uma senhourinha no caixa, escuta o fim do papo e manda bala:

_ Deixa de bobagem! "Seje homí", esquece essa aí e arruma outra de uma vez. Moço bonito que nem você arruma outra namorada hoje mesmo se quiser. Agora anda logo com essa conversa que estou com pressa!!!

Minha cara e do Jesuiz Lux pra veinha desalmada.

Eh, conselho da veinha apressada é válido também. Eh bom também. Meio machista, meio cruel, mas 100% realista.

Minha precoce carreira de conselheira sentimental fulminada sem uma gota de compaixão. Aproveitei a deixa e fui-me embora. Ainda tinha que passar no ponto do queijo, antes de chegar em casa.