sexta-feira, 28 de março de 2014

Pateta fazendo boxe (aula 1)

Pateta foi na sua primeira aula de boxe. 
Patetice não tem cura nem remédio.



Pateta se arrastou de casa, sentindo-se um exemplo de obstinação por sair da cama e do face (e do insta, e do candy - level 530, e... ) debaixo de uma garoa chata. Patetinha feliz consigo mesma no ritmo do vamos - nos arrastando - mas vamos! Ignore as dores da primeira semana de kadhimia, ignore e siga em frente. Siga em frente, respire, siga em frente. Sem dorflex, sem nada. Pateta macho, sim senhor!
Quem em seu juízo perfeito vai pra uma aula às nove da noite, nessas condições?
Sala já conhecida... alongamento, zumba (aê!) e pilates são ali. Povinho chegando. Faço a contabilidade: um tio sukita, duas tias sukitas (eu tô na conta), várias cokes (normal, diet e zero), dois redbulls e o instrutor, doravante chamamado de Mr. Músculos Dee. Deedee, para os íntimos (ou seja, eu e todos vocês), é marombado de alma gentil. Perguntou se era o primeiro dia. Sim, yes. Mandou ir devagar. Simpatizei na hora com a montanha de músculos falante. 
Corridinha em círculo para começar o aquecimento, termino a contagem... praticamente 4 moçoilas pra cada moço. Não consigo deixar de me sentir um hamster rodando na gaiola quando faço isso - dar voltas correndo numa sala fechada. Deedee começa a fazer graça: corre de lado, dois pra lá e dois pra cá, saltitando, joelho em cima, pé no bumbum, põe a mão no chão. Ok, mais um pouco morria, sorte que ele parou logo com aquilo. 
Pateta parou e descobriu que o coração já estava tocando samba. Pausa pra água. Volta, e lá está Deedee separando a turma pra modi fazer um tal de circuito. Elétrico? Não... Dou uma olhada, vejo duas cokes perto e com altura próxima da minha, já vou chegando. Oi, meninas! É meu primeiro dia (sejam legais com a tia sukita, porfa). Descubro que começaram faz pouco também. Uma avisa que amanhã não sentirei meu bumbum. Filosofo sobre não sentir algo que não tenho. É possível, produção? Tenho o que se pode chamar de glúteo negativo, algo meio boneca Barbie. Está ali, tem alguma serventia, mas... não dá pra chamar de bunda! 
Começa a tortura propriamente dita. Primeira fase do circuito: agachamento com uma bola de 4 quilos. What?!? Tia sukita patética e suas cokes sobrevivem com louvor. Segunda fase: pular corda. Êeeeeeeeeeeeeeeeeeeh! #sqn.  Êh nada, êh o car*alho. Não me lembro da última vez que pulei corda, tenho vagas lembranças de fazer isso muito bem lá na... quarta série? Deve ser igual andar de bicicleta, penso. Começo a pular corda igual uma gazela afrescalhada. Tudo errado. Deedee vem e ensina, #shame, faz assim, faz assado. Faço. Agradeço por não tropeçar e beijar o chão. Sou uma pateta agradecida! O vexame termina logo, vamos pra fase seguinte. Não sei como se chama aquela por*a. Tinha uns troços no chão e a gente tinha de saltar correndo de lado. Sacaram? A essa altura já estava procurando com o olhar minha companheira da terceira idade, queria um olhar do tipo "vai, vc consegue... estou viva, você também vai sobreviver". Ela nem deu tchum pra mim. Véia sem sentimento de classe! Continuo em movimento, estou com medo de parar e ver tudo rodar. De relance vejo no espelho a triste figura: descabelada, suada, vermelha. Só falta por a língua de fora. Alguém me abana! Meu feudo por um lugar debaixo do ventilador!!! Próxima etapa: subir e descer do step enquanto se dá soquinhos no ar segurando pesos. Cêjura? Deedee explica que é pra dar jebs. What? Claro que a capacidade da pateta articular perguntas já tinha sido perdida. Sorrio e aceno com a cabeça como se tivesse entendido. Imito o movimento dele. Tento imitar, na realidade. Eis que chega o último exercício do circuito. Agradeço aos céus: abdominais. Tem um lugar no chão pra mim (colchonete mega suado pelos coleguinhas anteriores, mas a essa altura a tecla "não tô nem aí" já estava ativada). Deito e agradeço. O chão nunca me pareceu tão confortável.
O apito do Deedee toca. Contei que ele apita a cada intevalo pra gente fazer o revezamento no circuito? Poizé. Apita e começo a fazer os ab-do-miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii-na na na na na-is. Mais ou menos nesse ritmo. Termina. Pateta vai tomar água. 
Falei "termina"? Ups, engano. Deedee, manda re-começar o circuito. De novo. E de novo. E mais uma vez. Juro, nunca fui tão descoordenada em toda minha vida. meu objetivo de vida tinha se reduzido a: não vou tropeçar na corda, não vou cair. Nãoooooooooooooooooooo! Fiz o resto, mal e porcamente, mas fiz. Um tempo longo demais depois Deedee manda parar e recolher tudo. Chega de circuito! Ele olha pra minha cara de "vou ter uma ataque cardíaco aqui e agora" e pergunta se está tudo ok. Aceno mais uma vez com a cabeça, esboço algo parecido com um sorriso. Engulo o choro e o desespero. Vou beber mais dois litros de água. 
Por algum motivo sobrenatural consigo voltar pra sala de tortura. Hora de dar uns socos. Hora tão feliz! Não conheço nada mais desestressante do que dar porrada. Nem yoga chega perto. E, olha que adoro yoga. Olho os companheiros, todo mundo com cara de "morri e não vi". Menos os dois redbulls e o tio sukita. Procuro minhas duas cokes. Ninguém consegue articular uma frase sequer. Melhor assim. Galera começa a amarrar faixas nas mãos e colocar luvas de boxe. Claro, luvas! De boxe! Obviedades ululantes. Pateta não tinha pensado nisso, imperdoável. Pessoa já fez taekwondo, pessoa já fez krav magá. Pessoa vai pra primeira aula de boxe... sem luva! Pessoa é pateta ao cubo!!! Se você é um novatus bobus, ok, tá perdoado. Eu não era, só fingia ser. Qual o problema da luva? Machucar a mão? Não, ninguém vai machucar a mão no ínício de uma aula de lutas... tudo começa leve, bem de leve. E o professor sempre tem umas luvas pra emprestar. Aí que está o grande problema. Pensa o tênis velho chulezento mais fedido que você já teve o desprazer de conhecer. Garanto, o dito cheira a perfume francês perto de uma luva dessas. Que passa de mão em mão há... trocentos anos? Penso em não usar. Deedee vem todo gentil oferecer uma. Aceno com a cabeça, aceitando. Ele separa as vítimas  os novatos do resto da classe. Essa pateta, suas duas cokes, outras duas cokezinhas e um coke zero com jeito de faquir e espinha na cara. Vejo a outra tia sukita, tá inteirona. Inveja é uma merda. Começo a botar defeito... pela quantidade de rugas que conto imagino que já virou a casa dos 50. Ódio mortal por ela não estar pedindo arrego. Tio sukita tá todo proza com os dois redbulls supernutridos. Inveja é uma merda mesmo.
Conformo-me com minha gang, melhor me enturmar. Infelizmente esse objetivo será adiado para próxima aula, todos ali pareciam ter perdido a capacidade de formar pensamentos e articular frases. Inclusive eu. O coke zero é nomeado meu par. Deu dó, pela cara era a primeira aula também. Tive medo do menino desmaiar e cair em cima de mim. Quase dois metros e quarenta quilos em um ser que mal se sustentava em pé. Um dia será um belo homem, quando dobrar de peso, encorpar e... deixar de parecer um fantasma que anda. Ninguém merece a adolescência. 
Deedee veio nos ensinar o beabá do jeb. Guarda alta, pés em posição, joelho flexionado, et cetera. Automaticamente cerro o punho no estilo krav magá. Ele pergunta se já tinha feito boxe antes. Aceno negativamente. Não conto das minhas experiências em lutas anteriores. Preciso de um professor condescendente com a patetinha e não com um que ache que sou uma entusiasmada pela coisa. Professores gostam de lidar com alunos que não sabem de nada, são mais atenciosos com quem está saindo do zero. Vamos manter a situação assim. 
Dou a luva pro coke zero, e fico de aparador de golpes. Temos que contar 100 jebs - direita e esquerda - para então trocar. Lá pelo trinta acho que o menino vai desmaiar. Deu medo. Pergunto (a fala voltou com o susto) se ele está bem. Coke zero balbucia algo parecido com o sim. Gostei. Ele pode cair, mas vai cair batendo. Na metade da contagem vem um dos redbull corrigir o "meu" coke - instinto maternal é phoda. Deu vontade de bater no brutamontes. Qualé, meu? Não tá vendo que o guri mal para em pé, está prestes a desmaiar, e vc quer que ele coordene soco, movimento de quadril, pés e ainda mantenha a guarda alta. Sai pra lá! Chega a minha vez. visto aquele chulé nas mãos. Vontade de vomitar. Sei que o pior ainda está por vir. A hora de tirar as luvas e ter aquele fedor impregnado nas minhas mãos. Todo castigo é pouco pra quem não leva sua própria luva numa classe de lutas. Faço os cem jebs. De alguma maneira meu corpo guarda a memória do krav, faço os movimentos de pés, quadril e braço automaticamente. Só preciso me concentrar em manter a guarda alta. Deedee chega perto, observa e não me corrige. Imagino que seja um bom sinal. Intervalo para mais três litros de água. Volto, mais cem jebs. Continuo preocupada com o coke zero, isso me mantém alerta e impede que pense na dor que estou sentido. Paramos, mais água.
Hora de aprender o que é um cruzado. Penso em alguma piada boba, nem ouso falar, acho que até a língua (é um músculo, não é?) está doendo. Fazemos 200 arremedos de cruzados, revezando. Fico imaginando a que horas meu parceiro vai enfim cair duro. Ele continua a me surpreender, está de pé. Lívido, descoordenado, tonto... mas de pé. 
Teacher Deedee tem pena de nós e começa a nos alongar pra terminar com a tortura. Os outros continuam a aula. Agradeço aos céus. Chego ao banheiro, tudo que quero é lavar as mãos e tentar me livrar daquela fedentina. Lavo, lavo, lavo. Continua fedendo. O chulé daquela luva parece ter se apegado a mim. Olho no relógio, e descubro que o Mr. Músculos não é tãoooooooooo bonzinho assim, nos aliviou só 5 minutos de aula. Ah, Deedee.
Descobro a dor e a delícia de descer as escadas da kadhimia e ir pra casa. Sou recebida como Rock depois da sua primeira grande luta? Nem em sonho, kkkkkkkkk. Baby one diz que estou fedida. Baby two, gentilmente, completa: Fedida? Fedida não, muuuuuuuuuuuuuuuuuito fedida, descabelada e suada. Vai pro banho, mamis! Não é à toa que o esporte não vai pra frente nesse país: falta incentivo mesmo. 
Chego no banheiro e travo. Tirar a roupa nunca foi tão difícil ou dolorido. Em algum momento minha coxas se rebelaram e decidiram que não iam mais se mexer. Greve coxal.
Intepelo as meninas:
_ Vamos, um último esforço. Força, queridas, o banho quente está nos esperando. Depois faço uma massagem com muito óleo. Prometo.
_ Não, não e não. Estamos bem aqui e daqui não sairemos. 
_ Banho quente, óleo gostosooooooooo... vamos?
_ Esquece. Paralização total, prepare-se para dormir em pé. Estamos em greve por maus tratos, assim não dá pra trabalhar. 
A discussão prossegue sem sucesso. Apelo pros aliados. Pés e joelhos se vendem em troca de cremes, óleos e massagens. A panturrilha me deve favores depois de ter quase me matado de dor pela manhã com uma caimbra infernal. Usando de métodos não convencionais consigo despir-me e tomar banho. Deus abençoe as duchas corona e o mundo das águas quentes. Meio litro de óleo depois chego à cama. Ligo o oxigêneo... brincadeira. Estou cansada demais pra procurar um dorflex, não levanto daqui pra nada. Podem tacar fogo no prédio. Virarei cinzas com gosto! 
A dor está se alastrando a nível mitrocondrial. 
Esse pode ser meu último post. 
Foi bom estar com vocês. 
Pateta não tem juizo. Nem noção.
Todo castigo é pouco pra pateta!







2 comentários:

  1. AUHUAAUHAUAH minha nossa, que tortura! Isso não foi aula e sim uma pagação de penitênca, mas esqueceram de avisar vc kkkkk

    Kisu!

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  2. Desconfio que estou num momento masoquista, rs.

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Falaê...

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