domingo, 8 de dezembro de 2013

Sou tão FELIZ quanto quero SER.

Semana passada (hoje é domingo, oficialmente primeiro dia de uma nova semana, sendo chata e candelariamente correta) fui pega de surpresa num jantar - classe PI - com uma indagação interrogatório investigação tortura inquérito dantesco de uma conhecida sobre o atual estágio da minha vida profissional. 

_ Darling, a essa altura achava que você já seria Ministra do Supremo ou algo do tipo. O que houve? Você era a tal, a isso & aquilo, toda cheia de conhecimento, contato, sua vida se resumia ao trabalho, só viajando, só bla bla blá e de repente... O que deu de errado?!? 



(fia, pra começar... cê tá bowie? boa noite pra vossuncê também... aff, suspiros profundos enquanto conto de 1000 a 1 e evito a terceira guerra mundial. diz qual a necessidade? qual??? essa tipa gosta de viver perigosamente, só poooooooooode)




(pausa enquanto não treino krav magá basic na fia atrevida. ok, fiz isso mentalmente)

Daí, enquanto acionava automaticamente meu sorriso miss simpatia (sinal de alerta 1, cuidado com meu sorriso miss simpatia), estalava os dedos delicadamente (sinal de alerta 2, vontade de socar outrem sendo controlada elegantemente), conferia o brilho ofuscante da ametista no meu dedo e cruzava as pernas num momento quase a la Stone (ostentação e domínio de cena fazem parte, sorry sakamoto), respondi calmamente algo mais ou menos assim... 

(ok, o discurso não foi tão bem elaborado - improvisei - foi um resumo mais tenso e classudo do que lerão abaixo)


Errado é a PQP, bitch!!!

Não, não foi isso que disse. 
Deveria ter dito, mas... a política de contenção de danos aconselha a não quebrar cristais alheios. A casa não era minha, não dava pra chamar pro vale tudo. Infelizmente. Fora isso, tem a porcaria da boa educação de berço que me reprime, aff. Falar palavrão em público é um obstáculo que está sendo superado aos poucos. Ainda não cheguei ao redentor: Foda-se,  não é da sua conta. Aff. One day, one day... any day! Enquanto isso vou usando dos manuais de etiqueta e diplomacia pra dizer a mesma coisa  e ainda bancar a phyna enquanto faço a egípcia. Preciso aprender a fazer barraco, fato.

De volta ao tema... 

Nada deu errado (sua vaca sem noção), apesar de muitas coisas terem saído fora do meus planos iniciais. Realmente minha vida profissional era (ERA do verbo descobri que estava enganada) tudo pra mim no início. Era tão ou mais importante que meu casamento. Mas, eu era, então, uma jovem e inocente manceba. Adorava tudo que envolvia minha escolha profissional, era entusiasmada, era dedicada, era fanática, era... uma tolinha que trabalhava noite e dia. Só a juventude para desculpar e explicar tamanha obstinação. Fui criada para ser exímia profissional. E era. Era isso tudo e um pouco mais. 
Lembro de um dia em que minha então chefe virou para meu pai (de visita por ali) dizer que além de outras qualidades eu "tinha brios". Genteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeem, só faltou  pedir pra ela escrever isso numa placa de metal e assinar embaixo, ia pendurar isso na parede como um troféu. Pirei e quase dei pulinhos de tão feliz. Sabe aquele momento (eterno enquanto dure) em que você se sente mais phodástica que os 4Fantásticos?!? Poizé, seu Zé. 

Ih, já começei a divagar e sair do tema... tentarei evitar loooooooooooooopings.

De volta à farofa. Exatamente por isso todos, todoooooooooooooooooos esperavam que eu fosse a nova supra sumo avec gostosona da bala chita. Até eu achava que mais dia, menos dia, isso na-tu-ral-men-te viria a acontecer. Tanto que nem esquentava a cabeça. Ok, esquentava. Não vou mentir. Sou daquela geração pós queima de sutiã em que mulher que não se realiza profissionalmente não é mulher de verdade. O fato de ser competente e de logo no primeiro job já ser reconhecida como A tal e ganhar BEM e ser uma proto gênia linda, maravilhosa e bela e talz fazia com que todo ao meu redor tivessem altas expectativas. 
Eis que a boba (e jovem) achava que não só mandaria muito bem na área profissional como também conseguiria equilibrar a vida afetiva (marido), familiar (filhos lindos, educados e bem criados estavam nos planos) com graça e maestria, enquanto desfilava mais faceira que a Bundchen. Pausa para risos. Minha eu-hoje se diverte horrores com a minha eu-de-trás-de-ontem. Mulher maravilha perdia pra mim. Na teoria tudo é possível.  Na prática... ah, na prática tudo tem seu preço.
Ocorre que um belo dia me torno mãe e conheço o poder das dorgas (leia antes de tirar conclusões precipitadas). No princípio ainda achei que poderia manter o curso dos meus planos originais. Tanta gente consegue, por que não eu? Tanta gente sobe o Everest. Por que não eu?!? Tanta gente de sucesso que garante que tudo isso é possível...  esse povo mente pra caramba! Vamos ser realistas... equilibrar todos esses aspectos da vida de modo a ter sucesso e ser plena-feliz-realizada et cetera... é trabalho pra elefante. Só que eu não sou uma elefoa. E descobri que não queria ser. E que precisava tomar uma decisão e fazer uma escolha. Drogada, resolvi dar atenção àquilo que tornou-se o centro principal da minha vida a partir daquele momento, minhas bebês. Todo o resto tornou-se secundário. 
Se tudo tem a mesma importância, NADA de verdade é importante. Na vida real, algo tem que ser destacado em caps lock e ganhar mais  tempo, atenção, dedicação... Descobri, a tempo, que minha família era mais importante do que o resto. Havia uma escala de prioridades e valores a ser seguida. A minha escala. 
Parece fácil, parece simples, até comum. Só que não é. Não foi nada fácil ou simples e totalmente incomum aceitar isso. Foi uma opção dolorida. Adultos precisam tomar decisões, estabelecer prioridades, fazer opções. Além de abrir mão de um bocado de coisas e de renunciar a outro tanto de metas, sonhos, e vontades. Faz parte. Como sou dura na queda, essa decisão não foi assim... tranquila. Foi todo um processo, bem demorado, que incluiu por vezes momentos de deprê e crises existenciais. Processo esse onde não contei com apoio, não. Muito antes pelo contrário. Sabe aquele "todooooooooo mundo" que esperava que eu fosse a nova rainha do deserto das drags do cerrado? Bem, esse todo mundo fez cara feia, reclamou, encheu o saco, cobrou e demonstrou todo seu descontentamento e decepção pela minha "escolha errada". Faz parte também. Impossível agradar a todoooooooooooo mundo. 
Sofrendo de sincerícidio tenho que dizer que nem eu esperava por essa decisão. Nem eu. Meus planos de mulher maravilha não incluíam esse surto maternal. Nunca pensei que "família" acima de tudo seria o lema a bordar na minha bandeira. Se quer saber... não me arrependo. Não me arrependo, mas tive muitas dúvidas, passei por momentos terríveis, odiei não ser mais a dona do meu nariz e senhora da razão. 
Reformulando... não tem nada pior do que dizer que existe alguma coisa mais importante do que trabalhar 24 horas por dia, ter uma carreira, ganhar rios de dinheiro, quando se é uma mulher da minha geração (anos 90, workholic mode on). Ser independente e ter sucesso profissional não era opção, era obrigatório. Dar valor à casa (sou péssima dona de casa até hoje, apesar de ninguém acreditar) e à família era passar atestado de traidora da causa. Não era digno, não era uma "escolha", era entregar-se ao sistema patriarcal e assinar atestado de derrotada. Ninguém escondia o desdém. Fora os que ficavam "com pena". Não vou botar na listas as feministas de carteirinha que quase me penduraram na cruz. 
Fiz minha opção e acho que fiz bem. Posso abrir mão de cargos e de salários e de promoções e tudo o mais relativo ao trabalho. Posso até ficar sem dinheiro pra bancar minhas frescuras (cuja necessidade estão diminuindo a cada ano) e vontades... mas não poderia abrir mão do tempo com minhas filhas. A vida em família venceu o jogo de goleada. 
Olho para algumas colegas da faculdade, reencontro algumas de vez em quando, e a única que vejo tranquila e realizada é a que, assim como eu, casou e teve filhos cedo. E, que abriu mão de um "futuro grandioso e promissor". As outras estão ou sem filhos, ou sem marido (ou no terceiro, quarto, quinto... casamento), ou reclamando que falta "homem por aí", ou dizendo que não aguentam mais a cama casa vida vazia e que todo dinheiro que ganharam não significa nada agora. Sim, elas fizeram suas escolhas assim como eu fiz. Arcamos com as consequências das mesmas. Não me sinto melhor do que nenhuma delas, nem pior. Só acho engraçado  (e meio assustador) quando contam o quanto sentem inveja de minha vida. 
Pode até ser difícil hoje eu "recuperar" o tempo perdido (que não foi perdido, não foi mesmo!) e correr atrás do que "poderia ter sido".  A questão é que se é difícil pra mim... para elas é praticamente impossível. Sim, a medicina moderna está aí, existem mil alternativas viáveis para ser mãe após os 40 e tudo o mais. Quando perguntam a minha opinião sobre o tema, recomendo de cara a adoção... (mas isso é opinião minha, não a verdade ou a solução). O que não tem remédio, remediado está.  
O que quero dizer com isso tudo? Que descobri que tenho sim ambições, só que elas não são exatamente as do dia em que passei no vestibular (ou do dia em que me formei). E que se passei por frustrações (quem nunca?) elas me não deixaram de ser fonte de aprendizado. E que "apesar de" não ser a nova Imperatriz do Reino... estou realizada, contente. Aprendi que sou tão feliz quanto quero ser. E quando quero ser. E que isso de felicidade é muito pessoal, não tem fórmula. A gente erra, eu errei. Inúmeras vezes. Ainda assim minha vida não "deu errado". 


Quem dá errado é puta inexperiente, porra! 
(arquivar frase perfeita para uso posterior... só eu acho que a resposta ideal depois?!?) 

Tenho tudo que preciso. Em alguns aspectos me considero afortunada até demais. Já passei por bons e maus bocados, já dei com os burros n'água e já errei feio. Teve instantes em que acreditei que nunca existiu ninguém mais feliz do que eu. E outros em que quase morri de tanta tristeza. E segui em frente apesar dos altos e baixos... e dos tempos de tédio que também existiram. E fui sou feliz. Sou feliz o suficiente pra entender hoje que isso de "ser feliz" não é objetivo de vida. Não existe pote de ouro no fim do arco íris. O que existe é o arco íris e ele muda de lugar conforme o ponto de vista de cada um. Muda de lugar conforme cada fase da nossa própria vida... também.
Demorei a entender que só seria feliz de verdade quando aceitasse de coração as minhas escolhas e minhas renúncias como atos de amor. Custei, ralei, sofri... pelo direito de ser tão feliz quanto queria ser a partir do meu próprio conceito de felicidade. Esse tipo de conhecimento não pode ser ensinado (apesar do que garantem os gurus que vendem receitas de sucesso a cada esquina).


Não exite fórmula mágica, mapa do tesouro ou livro de auto ajuda que ensine alguém a ser feliz. A gente é feliz (ou não) des-conformemente com nossa capacidade de adaptação e aceitação de que dias felizes virão... assim como os infelizes. E que quem se preocupa demasiadamente com a felicidade (sua ou alheia)... não consegue ser feliz. Ninguém merece ser mais (ou menos) feliz do que ninguém. Felicidade não tem padrão ou medida, nem é questão de mérito ou prêmio para os vitoriosos ou virtuosos ou...
Tem gente que nasce feliz, tem gente que descobre a arte de ser feliz depois de... levar muita pancada da vida-como-ela-É. 
Como nasci com o bumbum virado pra lua, descobri num tempo relativamente razoável o que me faria feliz, e fiz o possível para tirar o melhor proveito disso. E isso supera até a chateação de lidar com perguntas inconvenientes feitas em horas impróprias diante de um público atento (ô raça curiosa que é a humana...) apesar de desconhecido. Nem esse desconfortável paredón social é capaz de abalar minha felicidade.
Nem isso... 

...

Acabo de perceber agora que ter que afirmar e reafirmar minhas escolhas de vida e minha felicidade... não me faz nem um pouco feliz. além de ser irritante. Coisa chata da moléstia. 
...

Agora, digam-me...  não teria sido tão mais cool (sem contar na economia de saliva) e filosoficamente satisfatório se eu tivesse mandado a figura se PHODER? Um dia consigo. Temam esse dia.

...

Agora me dão licença que vou ali assistir um fofo receber uma comenda papal (yeah, direto do Papa Chico, aquele do Vaticano, sacam o level da honraria?) que só 17 pessoas leigas (civis) no mundo até hoje receberam. Contando com ele, o nosso amigo. Amizade é isso:  suar dentro daquela droga da cadetral horas infinitas sentir-se feliz com a conquista alheia e assim multiplicar a felicidade do amigo. E também poder contar vantagiiiiiiiiiiiii sobre isso, senão qual a graça? Sou do tipo que morre de orgulho dos amigos que tenho. E que canta a vitória deles em verso e prosa. 

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