sábado, 30 de novembro de 2013

White Friday X Black Friday

Ontem foi a famosa Black Friday americana. 
Se você nunca viveu uma, não sabe o que é emoção...
A emoção de ser atropelada por uma manada de mamutes descontrolada. Sim, vale a pena. Apesar de tudo. Apesar do medo de morrer enquanto disputa na unha aquela última bolsa da DKNY... com três gringas enfurecidas. Elegância passa longe nessa hora. Fazer o quê? Claro que antes da orgia consumista e do vale tudo capitalista é preciso assistir o desfile de balões (patrocinado pela Macy's)... show! Um quase-carnaval (eles tentam, bem que tentam) em Nova York. Lembro de chegar cedo pra pegar um bom lugar, morrer de frio enquanto esperava, até correr para dentro de uma cabine telefônica pra não congelar devido ao vento que entrava pelos ossos. Brrrrr.... Mas as compras valeram a pena. Se valeram!
Um amigo comentou equivocadamente que não entendia o evento. Que não fazia sentido comemorar-se no dia anterior o dia de Ação de Graças, onde se agradece por tudo que tem e no dia seguinte entrar numa esbórnia consumista. Vamos devagar com o andor, nada de conclusões precipitadas. Sim, no dia anterior agradecem pelos bens e dons que possuem, a começar pela família, pela saúde, pelos amigos e também pelas posses materiais. Não vejo nada de ruim ou errado nisso. Só quem trabalha honestamente sabe o quanto de suor gastou para conseguir alcançar seus sonhos, metas, poder dar um teto descente pra sua família, um educação de qualidade para os filhos, comprar seus objetos de desejo, fazer aquela mais do que merecida viagem dos sonhos. Normal, natural e compreensível. Sonhos e desejos podem ter natureza diversas, mas cada um tem o seu e tem o direito (ou dever?) de correr atrás. Gente que não deseja, que não quer, que acha sempre que "qualquer coisa serve" e que "está tudo bom"... que me dá medo. 
Em uma sacada de mestre, os comerciantes americanos acharam que era uma boa ideia (e era!!!) aproveitar esse espírito de agradecimento e no dia seguinte, fazer uma mega promoção... como forma de agradecer pelas boas vendas durante todo o ano. E não é que o negócio deu certo? Assim o dia seguinte à Ação de Graças virou "O" dia de ir às compras e aproveitar os generosos descontos do comércio. E são generosos mesmo. Lá é pra valer, valendo.
Nós, ou melhor, nossos comerciantes... resolveram aderir ao calendário americano e entrar na onda da Black Friday. Claro que, a cultura estrangeira foi afetada pelo nosso espírito 99,9% jaboticabalista antropofágico. Puro Macunaíma mesclado com a única lei que vale nessas paragens abaixo da linha do equador: a de Gérson. Como disse uma tonta (mas nada besta) antropóloga que tive o desprazer de conhecer: "índio é assim, pega o que lhe interessa da cultura branca e descarta o resto". É, pegam o tenis Nike, o calção Adidas, o carrão, a bebida... e descartam o trabalho e o estudo. Saquei. Assim sendo, se adaptou o que era bom (filas de consumidores prontos pra abrir as carteiras) e fingimos não saber o que está por trás da correria: os descontos reais.  Nasceu a Black Fraude, mais uma amostra da verdadeira face nacional...
Como bem cunhou José Simão: Tudo pela metade do dobro!!! Vivas!!!
Ai, que vergonha. Shame on, Brasil. Shame!!!
Comprei algo? Não. Mesmo porque só compra quem quer... ninguém é obrigado. 
Compraria algo? Talvez, se precisasse e se estivesse nos Estados Unidos, compraria*. Aqui não. 
Varar madrugada afora acordada em sites de compras, ou entrando em mucovucos de lojas por preços sabidamente forjados? Não, obrigada. Primeiro, porque estava louca trabalhando e sem tempo, vontade ou disposição. Segundo, porque prefiro não fazer uso do meu cartão Otária Card Master Mané Plus. Tenho, não nego. Evito fazer uso, sempre que possível.
Então minha Black Friday não existiu em 2013, livrei-me com honras da Black Fraude e passei o dia feliz por ter sobrevivido à tentação. Tive uma White Friday. Super consciente e firme na convicção de que não preciso realmente de nada (materialmente falando) e que sigo firme e forte no processo de destralhamento. Quero seguir por aí...  quanto menos, melhor. 
Sou humana (e fêmea), abro meu guarda roupa e ainda penso "Help, não tenho N A D A pra vestir!". Verdade. Mas se o pensamento é o mesmo, e prova que continuo igual a todas (ai, o perigo da generalização...) o guarda roupa não, está pelo menos 2/3 menor, mais prático, razoável, usável, racional. Não está perfeito, longe disso... mas está evoluindo pouco a pouco. 
Meus parabéns aos que lograram viver uma feliz Ação de Graças (sim, eu agradeço) e uma White Friday responsável. De vez em quando é bom reagir, remar contra maré... principalmente se dá pra sacar que a correnteza não está nos levando pra onde queremos. 
Bom findi, gente de bem.


* Um não-abraço pra outro zamigo (sim, é vc mesmo) que sambou na cara da sociedade ontem, e deixou meio mundo babando de inveja (me too), publicando no face a nota fiscal das suas compras nos "Iztaitis". Doeu, viu. Doeu muito. Aff.

Um comentário:

  1. Tb estou tentando consumir menos,ou, pelo menos,consumir apenas o que realmente preciso,mas confesso q é dificil,amiga,não posso passar perto de bolsas nem sapatos em liquidação,rssss....

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