terça-feira, 24 de setembro de 2013

INVEJA é uma merda.

Sentada nas escadarias da Library of Congress, sentei e chorei.

Seria uma ótima introdução, se fosse verdade. E se não fosse um plágio mal feito do Paulo Coelho, rs. É proibido sentar nas escadarias de lá e consegui segurar o choro. Afinal restou-me um pouco de orgulho, ainda que infundado. Abri o berreiro no fim da tarde, dentro do metrô (sou dessas que não estão nem aí) no colo do amoremio enquanto descrevia o que vi e senti dentro da Biblioteca (relembrando: ele estava trabalhando e eu  turistando na vida boa).
Sim, sou chorona. MAS nunca choro à toa. 
Chorei por constatar que meu país tomou o rumo errado (faz tempo mas resolveu dar uma "acelerada" no processo mais recentemente) e que a esperança de dias melhores, se há... é pouca. Chorei por perceber que tudo que aprendi com meus pais e tento (eu tento!) ensinar pras minhas filhas - honestidade, honra, humildade, ética, moral, virtude e o valor dos estudos e do trabalho como únicas fontes decentes de um ser humano ascender pessoalmente - são princípios que nada valem na prática diária na terra onde elas nasceram. O que vale por aqui é a lei de Gérson, é ser malandro agulha, é ser "esperto".
Como não chorar? 
Minerva (justiça) só existe
onde há conhecimento. (mosaico)
Tentarei resumir a (terceira) viagem à Washington... digo terceira não para me gabar (a tonta já foi 3 vezes lá, lara ralá, rs... não é por aí) só para terem ideia de que às vezes é preciso tempo para se dar conta de algo. Ainda que seja algo tão óbvio. 
Finalmente entendi o que é a inveja. Inveja de verdade, inveja bíblica, a dos 7 pecados capitais. Não gostei nem um pouco da sensação. É horripilante lidar com essa força negra d'alma, a inveja.
INVEJA com caps lock e negrito. Senti inveja e concordo... é uma merda! 
Já estive no país algumas vezes e ele sempre me despertou sentimentos diversos: admiração, assombro, respeito... mas nunca antes havia sentido inveja.
Então, na condição de neo-invejosa lembrei logo de um dos maiores invejosos da humanidade, Osama Bin Laden, o invejoso senior, e o entendi. Compreendi totalmente o motivo que o levou a querer por abaixo o "império do mal duzamericanus". 
INVEJA, a mais pura e dolorida inveja. 
Mas, caro Binbin, deixe-me te contar um segredo. Você errou o alvo. O coração dos americanos não está na economia (Nova York), sua força não está no Pentágono e muito menos seu poder está na White House. O coração, a força e o poder estão concentrados todos num único lugar que, claro... um animal como você jamais poderia perceber: no conhecimento. Representado pelo novo templo de Atenas: a Biblioteca do Congresso. 
Você mirou nas consequências, não na causa. Suas bombas erraram feio o alvo. Sinto informar.
Não é a economia, seu estúpido. 
É a educação que fez os Estados Unidos ser o que são hoje!
E é justamente a educação (ou a falta dela, sejamos claros) que nos impede de chegar perto deles.
Voltar para casa, voltar para o meu amado (sim, amo essa porcaria de país) Brasíl é como tomar uma máquina do tempo, e regressar ao passado. Estamos anos luz de distância de sermos uma nação de primeiro mundo. Anos luz!
Não é lindo? Pode existir um lugar mais perfeito pra morar sendo um livro?

...
Parte do vitral, teto e colunas do saguão central.

Não foi a beleza (é belíssima), nem a grandiosidade (dizem os americanos que é a maior que existe) ou muito menos as obras raras (como, por exemplo, o primeiro livro impresso: a bíblia de Gutemberg ou a biblioteca pessoal de Thomas Jefferson) que me abalaram. A primeira conexão que fiz ao entrar lá foi com um templo... talvez pela casa ter sido mesmo inspirada num modelo grego. Toda construção de Washington teve por objetivo ser uma nova Atenas, uma nova Roma, um novo marco cultural e centro de poder para um novo mundo. Chegaram a fazer uma estátua de George Washington vestido como um imperador romano, que ele achou ridícula e rejeitou sabiamente (mas está exposta para seu desgosto no Museu de Historia Americana... na capital). A Library é um templo do saber, obviamente. E como tal... carrega em si ensinamentos além dos livros. Olhem para sua arquitetura, pra sua decoração. Para o teto! Tal qual no Museu do Vaticano... é no teto que está o código. 

Foi esse o pedacinho do teto que me abalou, mais precisamente esses afrescos:

 Afresco 1 do lado Esquerdo (causa): O legislativo corrompido, seus representantes não trabalham pra o povo e sim por seus próprios interesses. Percebam a pose descomposta da figura central, seios, pernas de fora, lembra mais uma cortesã. Do lado direito, o velho representa a esperteza (tem um livro no colo), ou seja,  o conhecimento usado para o mal, pois usa o dinheiro pra fazer pender a balança da justiça para o seu lado. À esquerda vemos a juventude pedinte, sem educação, sem trabalho (observem a fábrica sem fumaça... e os tijolos caídos. Exige ser reconhecido pelo meio da força, pois carrega uma arma - a lança. Esse é o primeiro passo... para a destruição de um país: a corrupção da casa do povo. Qualquer semelhança com o BRASIL não será mera coincidência!
Afresco 2 do lado esquerdo (consequência): O resultado da corrupção legislativa (ou dos representantes do povo)... destruição, fogo e caos = anarquia. Não há estudo, não há escola, não há trabalho ou prosperidade para os jovens... não há futuro.


O ideal da democracia: um governo do povo para o povo e pelo povo. Do lado direito percebam o anjo segurando um bridão solto, desamarrado... referindo-se a necessidade de homens livres para se constituir uma democracia. Do lado esquerdo o anjo segura na mão uma espada, lembrando nos que a defesa do ideal é permanente, que não é possível viver "adormecido em berço esplendido".  (afresco central da obra)


Afresco 1 do lado direito (causa): A boa administração (ou governo) no centro segura a balança da justiça, que aqui não traz vendas... não é cega. O jovem carrega livros e vota livremente. A jovem separa o joio do trigo, referindo-se ao discernimento que só é alcançado pelo estudo e pelo livre pensamento de cada cidadão.


Afresco 2 do lado direito (consequência): O governo apoiado na virtude colhe os louros da vitória: paz e prosperidade. O jovem do lado direito planta e carrega instrumentos de trabalho, ou seja, gera alimento e riqueza. O do lado esquerdo pinta um vaso, e tem perto de si uma lira, representando a arte. Arte, educação, equilíbrio, justiça, desenvolvimento...  só são possíveis onde há paz e prosperidade. 

...

Enfim, se algum dia você estiver na capital dos Estados Unidos... vá na Library do Congress, faça o tour guiado (free), depois pegue o corredor subterrâneo e conheça também o Capitólio (outro tour de graça). Não espere a terceira visita pra conhecer esses locais. Vale - muito - a pena.

5 comentários:

  1. E os EUA estão sim a anos luz de ser exemplo de correção, bondade, honestidade e e tudo o mais que poderiam ser. Como detentores do "Moderno templo de Palas Atenas" e com a presunção de serem "A Nova Atlantis", poderiam dar o exemplo pros pobres burrinhos do resto do mundo e não fazer e muito menos financiar guerras. Cai a ficha minha filha! Aquilo é bom no material e pra eles, mas é o reino dos maçons e congêneres e que não gostam nem um pouquinho de voçê e nem de mim. Cacau/POA

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    1. Oi, Cacau.
      Bem vinda ao blog.
      Vamos lá... que hoje estou com paciência.
      Em primeiro lugar, não estou nem aí se os americanos gostam ou se importam comigo. A questão não é essa. Eles se importam e cuidam BEM do seu povo. Eles encaram com seriedade a coisa pública e SE respeitam, por isso merecem minha admiração. No dia que aqui, fizermos 1/12 do que eles fazem e dermos ao nosso povo algo parecido com uma vida digna... ficarei satisfeita. Temos muito, mas MUITO dever de casa ainda pra fazer.
      Segundo, não é brincando de bolivariano de mierda e botando a culpa de tudo "nuzamericanus imperialistas" que isso vai acontecer.
      Minha ficha "caiu" faz tempo.


      Ah, e diante das "opções" disponíveis... ainda prefiro os americanos avec europeus (acertando ou errando... não são infalíveis) na liderança do mundo livre.

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  2. Então Gê, eu não acho que os EUA sejam grandes exemplos para nós de alguma coisa...
    Mas reconheço coisas boas neles. Você foi a Washington e imagino que se vc fosse em lugares mais afastados da capital, talvez se depararia com um outro quadro... não sei...
    Eu gosto da nossa história, do nosso país e da nossa riqueza.
    E sim, sentir inveja é uma merda! Eu invejo o salário deles!
    Beijos

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    1. Sim, existe pobreza nos EUA, algo que lembra vagamente a nossa classe média. Quanto estive em Miami da última vez (2009) fui visitar os bairros latinos - pobres & perigosos - segundo o guia local. Fique com a descrição da minha filha, então com 12 anos: "nossa mãe, parece a vila militar onde a gente mora!". É isso... tire suas conclusões.
      O bairro em que fiquei, na casa de amigos, no fim da red line, chama-se Rockville... nem Washington -DC mais é, fica em outro estado. Tentando fazer uma equiparação com o Rio... seria como estar em Bangu e arredores, só que em vez de Bangú... coloca algo padrão Ipanema no lugar (sem praia, claro).
      Não invejo o salário deles, invejo a vida deles: o respeito pela coisa pública, a seriedade com que lidam com o dinheiro do contribuinte, a educação, a oportunidade dada para quem quer estudar e crescer, a qualidade de vida, tanta coisa... eles dão duro e merecem tudo o que possuem.
      Não sou "deslumbrada", não sou fã... apenas reconheço o que vejo. Eles tem defeitos sim, mas tem qualidades também. E reafirmo: estão anos-luz na nossa frente. E a culpa é só nossa. Só nossa. Acho o fim essa mania de ser americanofóbica que boa parte dos brasileiros possui uma idiotice... coisa de macunaíma preguiçoso, como se for "anti-americano" fosse prova de carácter ou independência.

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    2. Uma ipanema (sem praia) ... e sem sujeira, sem cheiro de urina ou buracos nas ruas, sem ladrão, sem perigo, sem... enfim, uma ipanema ideal. Cheia de verde, com a fauna e a flora preservadas, limpa, segura, onde vc sai de casa e deixa a porta destrancada... e sua maior preocupação é, ao chegar na garagem... não deixar que coelhinhos entrem, para que seu cachorro não os pegue. Com praças e campos esportivos abertos ao público e funcionando perfeitamente, sem um fiapo de lixo nas ruas... onde as crianças brincam sem se preocupar com trombadinhas. Ah, sim... tem sempre um atirador doido pra estragar o paraíso. Mas quantos atiradores "não doidos" temos na nossa cidade maravilhosa? Consulte os registros policiais e compare. Falar mal dos USA virou esporte, virou quase uma "obrigação" para algumas pessoas. Agora... quantas delas já foram lá e viram ao vivo? Lembre-se da premissa básica de um bom historiador: procure e pesquise nas fontes primárias. O resto é achismo.

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Falaê...

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