quinta-feira, 16 de maio de 2013

Lobão, o mosqueteiro do rock.

Uma nação que se recusa terminantemente a crescer, 
paralisada por um embevecimento geonarcisista, indolente e servil. 
Bem-vindos à Terra do Nunca! 
Bem-vindos a essa pocilga chamada Brasil!"


O mosqueteiro do rock
Entonces...
Segundona lá fui euz (avec maridex) na Fnac ver o Lobão. Ver, ouvir, comprar o livro e ficar numa fila homérica para conseguir o autógrafo do roqueiro. Fila grande o suficiente para se ler umas boas páginas - 76 - do livro. Ele foi super gentil e educado. Nem preciso dizer que me ganhou a simpatia na hora em que tomou todo cuidado em escrever meu nome certo - ninguém escreve meu nome certo! E eu ainda tive a pachorra de reclamar algo sobre a letra dele, rs. É não sou muito boa no papel de tiete, esqueci de pular no seu pescoço e gritar algo como: lindyo! Fico devendo essa, Ronny.
Sobre a palestra, cheguei tarde, já tinha começado. Platéia lotada, muita gente em pé. Tinha de tudo, a maioria engravatados - afinal de contas estamos em Brasília e a turma saiu direto do trabalho - mas  a heterogeneidade da galera me surpreendeu. Gente de todo tipo, de todas as idades... de senhourinhas com cara de vovó, roqueiros quase a caráter, colarinhos brancos, trabalhadores, mães de família com filhos a tira colo, e até um garoto (estava bem na minha frente) explicando para outro o que era a Aman e que estava estudando para entrar lá e como isso era difícil. Jornalistas? Imprensa? Se tinha não deu pra perceber. 
Vou ser sincera, sou fã, mas fiquei surpresa. Ver aquela figuraça ao vivo e a cores - ele está com uma cara de mosqueteiro do rei, ou seria do rock? - falando sobre música, cultura, identidade e política nacional com tamanha desenvoltura foi inesperado. Citando com pertinência Rosseau, Montaigne, Glauber, O. de Andrade, Gil e Caê  - máfia do dendê - e botando sem dó o dedo na ferida brasileira, assumo: foi algo de cair o queixo. Isso em meio a palavrões - haja aplausos na hora dos palavrões - que só um carioca da gema sabe usar com tamanha graça e inocência. Inocência? Sim, inocência. É preciso ser uma alma pura para ter coragem suficiente para olhar para trás assumir sua condição de "besta quadrada" e dizer publicamente: Me enganei, porra! E estou aqui dando a cara ao tapa. E não vou ficar calado diante de uma situação que não concordo. Meus aplausos pela galhardia. Aplausos também para o momento em que ele chamou na chincha os pretensos intelectuais brazucas que vivem de fazer apologia à pobreza, como se isso fosse algo digno de nota. Ademais... ouvir ele espinafrar os deseducadores freirianos e afins por lusofobia foi incrível. É preciso admitir, ele está certo. A nossa incapacidade de ler-escrever-argumentar em português correto (não ousaria dizer culto porque tenho medo de ir para o tronco) está afetando nossa capacidade de... pensar! 
O livro é interessante. Inicia com um mega poema, no prólogo, chamado Aquarela do Brasil 2.0 . É doído. Trechinho:

... "O Brasil dos estupros consentidos na surdina,
dos superfaturamentos encarados como rotina,
dos desabamentos e enchentes de hora marcada,
dos hospitais públicos em abandono genocida,
dos subsídios da Cultura a artistas consagrados,
dos aeroportos em frangalhos, usuários indigentes,
dos políticos grosseiros, como sempre, subornados,
de cabelo acaju e seus salários indecentes,
da educação sucateada pelo Estado
em sua paralisia ideológica, omissa e incompetente

Do racismo galopante, na internet,
nas universidades e nas ruas,
com as suas manifestações hostis,
Da queima de índios e mendigos,
por meninos bem nascidos.
Do apedrejamento, vilipêndio e morte
de mulheres, prostitutas e travestis

E lá vamos nós, desdendo a ladeira!
Rebolativos, minhóquicos, supersticiosos,
crédulos, inabaláveis, venais...
amantes da boa trapaça...
com nossa displicência carnavalesca espetacular
e os repetecos anuais dos feriados enforcados de destruição em massa

E não me venha com essa lenga-lenga do  tipo
"não gostou, se manda! vai pr'outro lugar",
porque eu estou aqui para exterminar:
vossa hiponga modorra, vossa preguiça macunaímica,
vosso caráter vacante, vossa antropofagia cínica,
pois esse lugar também me pertence,
e ninguém vai me calar. Ninguém vai me calar."...


Ele começa escrevendo sobre a nossa Terra do Nunca, depois de música, passa pelo já famoso "Vamos assassinar a presidenta da República?", mais um pouco de música, reflete sobre sua condição de neo reacionário, conta uma viagem incrível ao coração da floresta amazônica, confessa enfim sua condição de "besta quadrada" política e conclui apoteoticamente  com uma carta aberta ao pai da antropofagia caraíba, Oswald de Andrade. 
Não há nada de novo no que ele escreve sobre a política nacional. É claro, objetivo e crivado de razoabilidade. Talvez o novo seja ele - um ex macaco de auditório petista - abrir os olhos para a triste situação real em que estamos atolados e não botar a culpa no FHC, no PSDB, na imprensa golpista ou na direita raivosa em conchavo com o imperialismo americano. Ponto pra ele que abandonou os desvarios politicamente corretos da esquerda malemolenga e enxergou a vida como ela é! Talvez siga de exemplo pra outros. Talvez... Espero mas não conto com isso. Já dobrei o cabo da boa esperança. Em matéria de politicanalhice nacional só espero o pior. Assim não me decepciono mais.
A parte que mais gostei - porque me atiçou a curiosidade - foi justamente seus petarcos acerca da estomacal semana de 22 e a influência do manifesto antropofágico na construção da (procrastinante e  cínica) identidade e do (mau) caráter tupiniquim. Da nossa capacidade de ser sempre a pobre vítima do sistema, piegas e autocomiserante, flácidas antas a desfilar numa eterna micareta com nosso alegre modus inoperandi. Ui. É algo a se pensar, estudar e rever com calma. A princípio parece que ele acertou no alvo ao diagnosticar nossa condição de ressentidos, cafonas e cabotinos vivendo de marcha a ré, de amantes da idade da pedra! Mais um pequeno (e dolorido) trecho do livro, desta vez... da Carta aberta ao O. Andrade:

..." você ficaria apavorado ao testemunhar a asfixia intelectual, cultural e ideológica, o ufanismo vagabundo, descabido e paralisante, a morte da complexidade, da vontade e da ousadia, da excelência, da memória em detrimento do simplório, da preguiça, do acanhamento, da precariedade, da amnésia, que seus conceitos e fundamentos, lamentavelmente, ajudaram a chancelar, e continuam ajudando a promover esse estado de  suspensão perpétua na alma dos filhos dessa terra que deveria ser reconhecida por... Pendurama, Pendurama do Garrote Vil, Vil, Vil!
Vontade de potência é algo que não rola por aqui de jeito maneira, Oswald.
A bundamolice comportamental, a flacidez filosófica e a mediocridade nacionalista se espraiam hegemônicas. Todo mundo por aqui almeja ser funcionário público, militante de partido, intelectual subvencionado pelo governo ou celebridade de televisão, amigo. Com exceção de meia dúzia de três ou quatro que, via de regra, são caçados como ratazanas subversivas, ou melhor, no jargão em voga, como porcos reacionários, e eu sou um deles."...

Lobão, São Paulo, um ano após o
 fatídico fim do mundo, 2013, A.D.

Obrigada, Lobão!

5 comentários:

  1. Estou no capitulo 1. Também adorei a máfia do Dendê!!
    Abraços

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  2. Uau Gê! Adorei sua experiência e já fiz o pedido desse livro aqui para a biblioteca onde trabalho. Tenho o maior respeito pelo Lobão pois já assisti ele no Café Filosófico e o cara mostrou que não é apenas um bad boy. O cara tem tutano, é culto pra caramba e tem sim, noção da emporcalhação que virou nosso país. Agora lendo sua impressão sobre o livro, não vejo a hora de ler também.

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  3. Mafia do Dende!!!

    nossa... preciso ler esse livro

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  4. Eu sempre curti o Lobão,vou procurar o livro..bjs!

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  5. Vou ler hein! Vou ler!!!
    Mas não concordo com ele! Apenas quero ter a minha própria leitura!

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