sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sobre aquele belo dia

Apaixonada? Quem, eu?  Por quem? Ele? 
Um belo dia eu me apaixonei. Na verdade não me lembro exatamente que dia foi. Não marquei no calendário, nunca fui de prestar atenção nisso. Sequer sei o dia exato, em que data começamos a namorar. Tenho uma leve noção de que foi entre o dia 10 e 15 de julho do século passado. Voltando ao dia em que me dei conta de que estava apaixonada. Sei que não foi no primeiro. Só que num dia qualquer me dei conta que estava apaixonada e perdida. Que merda, pensei. Agora vai tudo por água abaixo. Pensei no meu velho caderno azul. Não tinha diário, tinha um caderno azul em que escrevia em dupla com minha comparsa de crimes e melhor amiga na época. Não sei onde foi parar esse caderno - medo. Nele havia escrito em letras garrafais: não cometa o erro de se apaixonar. Toda sabedoria dos meus 15 anos sendo jogada no lixo por conta dele. Dele! Quer dizer quem era ele? O que vi nele? Ainda não sei.
Acabava de terminar com ele, e me apaixonei. Foi de repente que me dei conta do óbvio. Ele iria embora para longe e eu não estava afim de bancar um namoro a distância. Não mesmo! Esclareci, agradeci e até disse que realmente gostava - um pouco - dele. Tudo na maior delicadeza possível, porque ainda que não soubesse o que era levar um fora... brincar com o coração alheio nunca esteve nos meus planos. Olhei pra ele, e me dei conta que estava fazendo uma besteira completa. Era tarde, já tinha tomado a decisão. Já tinha comunicado minha decisão. E então, percebi que estava me partindo por dentro. Não era mais inteira e isso não fazia sentido nenhum. Apaixonar-se não estava no script. Apaixonar-me por ele... não mesmo.
Isso só pode ser brincadeira do destino. Cupido, tá despedido. Já!

Veio uma insegurança monstra. Não sabia como me comportar ou agir. Fazer o quê naquelas circunstâncias? Segui com o discurso de porque devemos terminar o namoro, já que ele saía fácil da minha boca. Enquanto isso tentava parecer segura e descontraída, com um leve toque de seriedade e candura. Não sei de onde tirei isso, mas achava que era preciso candura para destituir alguém do posto de namorado. Não queria demonstrar muito interesse ou médio interesse, só um pouquinho de interesse pelo ego que seria ferido - o dele. O problema era que as palavras não condiziam com o que sentia. Pior era só se dar conta do erro ali, naquele instante. Era para ser só mais o fim de um namorozinho de poucos meses, nada demais. Ainda que não tivesse assim uma fila de ex namorados, já tinha alguma experiência em dar passa-fora com certa classe. Raramente perdi um amigo ou pretendente que dispensei e todos os antigos se tornaram amigos. Era boa nisso, mesmo. Tinha horror de pensar que tinha magoado alguém além do necessário. 
Fiquei perdida de mim mesmo, e enquanto falava sem parar... tentei me encontrar entre os cacos espalhados do meu coração. Desastre completo, quando me achava, me dava conta da encrenca em que tinha me metido, e a razão me escapulia novamente, e não era mais possível ser espontânea. E ele ouvia, prestando atenção em cada bobagem que saia da minha boca.. E me olhava docemente. E parecia me levar a sério, balançando a cabeça como a concordar com cada palavra que dizia. E eu ali, me dando conta que o queria para o resto da vida. Meu corpo pedia isso, meu coração implorava. Eu me recusava a fechar os olhos, dentro de mim só encontrava ele. Abertos era pior ainda,  lá estava ele, na minha frente. Eu queria abraçá-lo. Sentia uma necessidade sem fim de abraçá-lo. De estar dentro dos seus braços, de sentir seu corpo amassando o meu e de ficar beijando um ano. Depois, pedir pra esquecer tudo que tinha falado e andar de mãos dadas. E de fazer planos piegas, de casar com ele e ter filhos e ter netos e... Acordar todo dia em sua companhia. E correr pra ele como naquelas propagandas de jovens casais na beira mar, enquanto o sol se punha. E de acreditar em contos de fadas e em finais felizes para sempre.  
Tô apaixonada e enrascada mas tô rindo.  E te dispensando.

Falava, falava e continuava falando pelo simples fato de que meu cérebro tinha travado com a descoberta. E ele ouvia, se prestou alguma atenção não sei dizer, mas parecia ouvir com calma. Cada palavra que dizia para ele foi o suficiente. Pra acabar comigo. Acho que nesses casos a coisa é simples. Paixonite não tem remédio, quando bate é pior do que acidente de trânsito. E se bateu, o estrago nunca será pequeno. Em mim bateu forte, tinha sido atropelada por uma jamanta desgovernada. Nele, não sabia se tinha batido, torcia por um pequeno arranhão ao menos. E ali estava, mandando ele embora, dando mil motivos para o fim da relação, libertando ele de qualquer compromisso comigo, como se isso fosse realmente a grande ideia do século.  O choque da descoberta de estar apaixonada misturado com um fio de orgulho e racionalidade me impedia de parar com o que tinha começado. Havia também um tanto de estupor e de não saber como lidar com aquela sensação de estar a beira do precipício e querer pular. Diga-me, quem em sã consciência opta por jogar-se de um precipício? 

Então toda aquela minha pantomima acabou. Ele olhou dentro de mim, devastou o que restava da minha alma e disse que nunca tinha imagino que eu era tão covarde assim. Estanquei. Como assim covarde? Está me chamando de covarde, cara pálida? Ei, não me ofenda! Não depois de todo cuidado que tive pra te dar um fora com carinho, compreensão, dignidade e... Que história é essa de me chamar de covarde?!?

 _ Você é covarde porque tem medo do que sente, do que sabe que eu sinto, ainda que nenhum de nós tenha dito nem uma palavra sobre isso. Você é covarde porque não quer arriscar. Não sabe como será se continuarmos juntos, também não sei. Ninguém sabe nem pode saber. Mas sei que prefiro correr o risco de sofrer e ser feliz do que não tentar. Você está sendo covarde!
Covarde, não! 

Dá pra não se apaixonar por alguém que te diz na cara a mais pura verdade, sem rodeios?
Não sei quantas vezes brigamos, terminamos, voltamos e repetimos tudo de novo. Sei que acabei por me casar com ele, cinco anos depois. E que tem dias que agradeço por não ter sido covarde. E que tem outros em que me arrependo. E num outro belo dia me dei conta que não era paixão. Era amor mesmo. Amor de música brega, amor que tira do chão com a mesma facilidade com te joga nele. E assim tem sido. Emocionante sempre. A verdade é que por pouco já não me separei dele, lembro-me de ter desejado isso pelo menos umas duas ou três vezes por ano nos últimos 20 anos. Inexplicavelmente continuamos juntos.  Quando brigamos somos tempestade em alto mar, nada sobrevive ao nosso poder de destruição, nem nós mesmos. Quando em paz... sentimos inveja de nosso próprio amor. Até propaganda de lua de mel na jamaica perde para nossos momentos de casal feliz e apaixonado. Tudo isso porque ele não se engana com minha lábia, desdenha do meu discurso bem construído e só presta atenção nos meus olhos. No que está no fundo deles. E, que de vez em quando, ele ainda mexe com meus brios, me chamando de covarde. Não sei porque, mas funciona.


3 comentários:

  1. Ge que história mais linda! Amor é exatamente isso: não ser jamais uma calmaria mas sim temperada a algumas tempestades. Adoro a sua escrita menina!
    Bjs

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  2. Sua boba me fazendo chorar com uma história de amor assim, tão linda.
    Que tudo isso se mantenha por mais muitos, e muitos, e todos os anos das vidas de vocês!

    :)

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  3. Oi Gê.
    Que declaração de amor mais linda!
    E é tão bonito ver que ainda existe amor, companheirismo e respeito entre casais depois de tantos anos juntos!
    Taí a prova de que é possível sim ser feliz por logos anos ao lado da mesma pessoa! Que amar pode sim dar certo! E casamento é sim uma união abençoada!
    Toda felicidade do mundo ao casal. Que o amor, o respeito, o companheirismo transborde entre vocês!
    Beijos

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