quinta-feira, 18 de abril de 2013

Made in Peru (8)

Peru rail - be happy a caminho de Machu Picchu.
Dia de ir a Machu Picchu, dia tão feliz!
No pacote comprado estava incluso o ticket de passagem de trem para Águas Calientes, ponto final para quem se dirige à velha montanha. Machu = velho, picchu = montanha. A cidade sagrada dos incas. Coube a nós comprar o ticket de entrada. É fácil, basta acessar o site oficial do parque (aqui) e ir numa agência do Banco de La Nación pagar o boleto, atenção para que tudo deve ser feito no mesmo dia. Fizemos tudo na véspera do passeio, já que era baixa estação e tinha entrada sobrando no site - ficamos acompanhando antes para ver a quantidade de ingressos a venda. Tranquilo, tranquilo. 
O chato foi acordar de madrugada e pegar o táxi até a estação de trem em Poroy, uma cidadezinha próxima de Cusco. Chegando lá o susto, tudo fechado... apareceu um funcionário e explicou que a estação estava fechada devido a um desmoronamento de terra (época de chuvas - verão) mas que... mais tarde chegaria um transporte da companhia para nos pegar e a todos os outros passageiros desavisados que tivessem ido parar lá. Bom dia, Murphy! 

Rio Urubamba
Sim, as empresas de turismo sabiam do desmoronamento (fazia dias e dias que estava assim... e pelo visto continuaria neste estado por um bom tempo) e por isso a empresa férrea estava pegando os turistas gratuita e diretamente em Cusco (pagar taxi a toa - um esporte!) e levando a estação seguinte. Ficamos na estação lindinha e fechada esperando... e só não morremos de frio pq achamos um aquecedor funcionando. Chegaram mais turistas... é reconfortante saber que não fomos os únicos bobos. Algum tempo depois veio o transporte, duas vans. 
Foto clássica... a grande montanha ao fundo é Wayna (ou huayna) Picchu - a jovem montanha.
Chegamos na estação férrea seguinte em cima do laço. Claro que o trem não ia partir sem a gente, mas... deu uma certa aflição. O trem da Perurail é uma beleza... com teto de vidro para apreciar melhor a paisagem. Fomos na categoria B e voltamos na C... pouca diferença, em nenhuma delas a cadeira reclinava. Há um trem top de linha, classe A, seus horários de ida e volta são melhores. Quem puder, opte pelo confortável e belíssimo Hiram Bigham. Serviram lanchinho, suco e salgadinhos. A viagem é looooooooonga.  Dá pra se maravilhar com a paisagem ao longo do Rio Urubamba, dá para se entediar com a paisagem, dá para se divertir com aquele monte de turista do mundo todo, dá para cansar de ouvir trocentas línguas e sotaques diferente. Dá para ler todos os guias e folhetos de Machu Picchu existentes e tirar centenas de fotos do rio e das montanhas e das matas e... Deu para tirar um boa soneca também. Na boa, a parte do trem é mais cansativa do que a própria subida na cidadela. Claro que dá para ir e voltar no mesmo dia, foi o que fizemos... mas é pauleira. 
 [Pausa para ser boa amiga e dar logo o bizú (dica) certo: 
Compre o passeio casado de dois dias Vale Sagrado + Machu Picchu, em qualquer das mil agências de viagem da cidade, dá para negociar bem o preço. Vale a pena! No primeiro dia se faz o Vale... é essencial para se compreender e conhecer tudo. Sem falar que é bonito também... no fim do primeiro dia eles te deixam na última estação de trem antes de Águas Calientes. Então se segue para o vilarejo, dorme-se lá (tem hotel e pousada para todo gosto e bolso) e na manhã seguinte sobe-se a montanha, sem stress... Volta-se de trem para Cusco. É a melhor opção. Volte para Cusco, fique um dia por lá e depois faça o outro passeio, de um dia para Puno - Lago Titicaca. Conta total: dois dias em Cusco (o dia da chegada e um no intervalo entre os passeios VS+MP e Puno), dois dias Vale Sagrado e Machu Picchu e 1 dia para Puno = 5 dias para fazer um fast travel pela civilização inca.  Melhor só se puder ficar mais um ou dois dias para aproveitar bem Cusco e se adaptar bem à altura - afinal nunca sabemos como nosso corpo vai reagir a esse tipo de mudança. Evite junho (ou não, rs), a alta estação devido a festa do sol, se quiser pegar a cidade vazia e preços mais palatáveis. No auge do verão - dez até fev - tem o problema das chuvas, deslizamentos de terra e et cetera. Pegamos chuva, mas nada que estragasse o passeio.
Voltarei um dia lá com as meninas... e então farei assim!]
A pedra que marca os solstícios... perfeitamente. Não é para sacrifícios, ok?
Depois de viajar umas 4 horas de trem chega-se a estação de Águas Calientes, uma graça. Saindo de lá entra-se direto no mercado de artesanías. Em muito me lembrou os mercados indígenas da Guatê. É um pega-turista bem montado... você é obrigado a passear por ele para chegar ao vilarejo e então atravessar a ponte até o ponto dos microbuses que te levam às ruinas. Não tem como errar, é só perguntar ou então seguir o fluxo de turistas, vão todos para o mesmo lugar. O transporte sai a cada 15 minutos, não é preciso entrar em pânico. Se não tiver levado lanche, pare e coma algo na vila. Não esqueça de comprar água. Tem lanchonete lá na entrada do parque, mas o preço é abusivo! Como se chega na hora do almoço, é melhor comer algo leve... são 3 horas de caminhada, subindo e descendo, mais subindo do que descendo, rs. E se fazer isso de barriga cheia é ruim... de barriga vazia é pior. Levamos água e petiscos e balas de coca para o parque.
Saindo do templo do sol... porta com 2 soleiras: ali só entravam o sacerdote e o rei.
A subida é rápida e sensacional, nunca tinha visto uma estrada tão ziguezagueante como aquela, praticamente todas as "curvas" querem ser ângulos de 90 graus. Loucura! Pense na quantidade de microbus subindo e descendo... prenda a respiração a cada esquina e reze para caber os dois na estradinha estreita. Se tiver medo de altura mude o roteiro da sua viagem. Claro que dá para subir a pé... vi alguns atletas na trilha. Só que aí perde-se tooooooooooooooooooooooda a emoção!
Templo de Pachamama embaixo do templo do Sol
Chegando na entrada do parque tenha as mãos os bilhetes pagos e sua identidade (ou passaporte). Negocie com as dezenas de guias locais o preço da visita guiada. É o tipo do lugar que tem que ter um guia, não seja sovina. Um passeio "particular" para um casal gira em torno de 100 soles. Se quiser pagar menos espere ir chegando o povo, vá formando uma turma e o preço cai para 15 ou 20 soles por cabeça. Dependendo, claro, do número de participantes. Fizemos o tour junto com outro casal, eram colombianos.
A roupa é complicada... faz um friozito apesar de ser verão, então tem que levar um agasalho, usei uma parka. Devido às chuvas... capa de chuva, afinal não dá para se equilibrar com um guarda chuva nas montanhas. Por baixo uma camiseta leve, tem hora que sai o sol, esquenta e vc até sua. Enfim, nas três horas que passamos por lá pegamos frio, calor, chuva e sol. Mas isso é detalhe... o lugar é realmente especial, tem uma energia diferente e milhões de teorias - algumas plausíveis e outras malucas demais - sobre sua construção, finalidade, etc. Na verdade ninguém tem certeza de nada e estudos arqueológicos continuam a ser feitos no local. Sobre o estado de preservação e as reconstruções feitas: nota 10. Dá gosto de ver o belo trabalho feito pelos peruanos, sem desfigurar o encontrado ... o sítio é irreparável. Boa parte do passeio vai depender da qualidade do guia que escolher... cada qual tem suas teorias próprias sobre tudo aquilo.
Pedra que marca os 4 pontos cardeais... exata!
Há um aspecto do discurso que me intrigou...  todos os guias com quem conversei fizeram o possível para tirar os louros da "descoberta" de Machu Picchu do americano Hiram Bigham.  Alguns chegam a difamá-lo acusando de roubar ouro peruano. Sei lá, acusar é fácil, provar que é bom... Acho isso de uma deselegância sem fim, aff. Convenhamos, tudo bem que os índios e habitantes locais conheciam o lugar, tudo bem que tinha até gente vivendo ali perto e até outros estudiosos já tinham notícia dela, como se vê até em um mapa de um pesquisador alemão mais antigo. MAS, mas se não fosse o professor e pesquisador ter se metido lá, ter oficialmente "descoberto" e anunciado isso aos quatro ventos... tudo aquilo continuaria tomado por mato e mesmo os que hoje o acusam não estariam usufruindo das bene$$es advindas de todos dinheiro (não é pouco) dos turistas, sem falar dos investimentos na pesquisa e conservação - boa parte disso veio (e ainda vem!) de universidades estrangeiras como Yale. O que seria do Peru sem as divisas geradas pelo turismo advindos da velha montanha? Ah, gente boa... vamos deixar de mesquinharia e dar o devido reconhecimento ao gringo!
Sobre a subida em si... é cansativa, mas é light. Nada que requeira grandes preparações físicas. Tem hora que o ar some dos pulmões, dá uma leve taquicardia... mas nada que dois minutos de descanso apreciando a paisagem não resolva. Caso pense em desistir dê uma boa olhada nas excursões de velhinhas ao redor. Se elas dão conta, quem não dá? Sem falar que o ritmo é leve, com paradas para explicações a cada ponto histórico relevante, ou seja praticamente de pedra em pedra. Preparo físico mesmo, pra valer, só se estiver a fim de fazer a pé a trilha inca até a cidade perdida, feita em 4 dias. Aí são outros quinhentos...
Altar do cuy (viram o bichinho?) no setor habitacional "popular".
Existem outras trilhas que saem da montanha, a mais concorrida é a subida da jovem montanha que fica bem em frente à cidadela (a que aparece em todas as fotos e o povo aponta enganado... olha é machu picchu, rs). Contam que um aspirante a morador (para viver na cidade só pessoas escolhidas a dedo, os "melhores" do império) em machu picchu tinha que dar provas de valor e valentia, e uma delas era a subida (ir e voltar em 1 dia) na jovem montanha - Wayna Picchu. A subida ainda é exigente apesar da trilha aberta hoje em dia. É necessário ter um ingresso a parte e somente 400 pessoas podem subir por dia. Nela está o templo da lua e o lugar que dizem ser a casa do sumo sacerdote inca. Para subir ali é preciso ser esportista, estar bem (não estar sentindo nenhum mal ou dor pela altitude)... é melhor ter dormido no dia anterior em Águas Calientes para descansar e começar a trilha pela manhã. Claro que, só tendo 3 horas, nem pensamos em nos aventurarmos por wayna picchu - impossível. Sem falar que nenhum dos dois estava fisicamente apto para façanha.
Esquentou... atrás a jovem montanha. Alguém vai encarar a subida?
Fizemos uma besteira (como não?)... como ficamos encantados com os museus de Lima, compramos o combo ticket para machu picchu com museu. Não percam tempo... o museuzinho é dispensável, não vale a visita. Sem falar que o micro bus te deixa ali (na descida da montanha) e depois você ainda enfrenta uns bons 20 minutos de caminhada na lama até Águas Calientes. Perdemos tempo no museu, verdade seja dita.
Voltamos, comemos um lanche na padaria local, atravessamos o mercado índio e fomos pra estação esperar o trem... a viagem de volta acabou conosco (comigo pelo menos!). Sorte que tínhamos combinado com o taxista para nos pegar na saída do trem... conseguir transporte naquela hora não é fácil. Tudo que queria era tomar um belo banho quente e dormir, mas maridex estava com fome. Saiu sozinho pela vizinhança do hotel e acabou achando um boteco vendendo frango com batatas  fritas. Foi comer e dormir feito pedra.

Foi um tal de colocar e tirar capa de chuva... dia muito nublado.
Resumindo Machu Picchu para iniciantes:
1. Vale muitooooooooooooooo a pena.
2. Tem uma boa estrutura para turistas, organizado e em boas condições de conservação.
3. Suba apenas depois de ter se adaptado à altura. Fique pelo menos um dia em Cusco para isso... a capital cusquenha é mais alta que a cidade perdida, por isso é bom fazer sua adaptação lá. Mesmo porque é dali que saem todas as excursões. Em junho Cusco e região "fervem" apesar do frio rigoroso do inverno, nessa época a grande quantidade de turistas exigem que se reserve tudo com maior antecedência. Dizem que a festa ao deus sol é imperdível e mal se anda por ali de tanta gente. Isso significa: hotéis e restaurantes lotados, ingressos esgotados e preços inflacionados.
4. Se puder siga o esquema "ideal" de viagem que propus lá em cima, o passeio ganha outro sentido e fica bem mais agradável, inclusive em termos de tempo para se recuperar.
5. Fazer o caminho dos incas e/ ou subir a jovem montanha é para quem está em boa-ótima condição física.  Não se meta onde não pode, nada de bancar o bobo. Passar mal ou sofrer um acidente por ali é bastante complicado... lembre-se como é demorado chegar e sair de Machu Picchu, imagine fazer isso doente ou machucado.
6. Só se chega a Machu Picchu através de trem, a viagem é longa e a parada é no povoado de Águas Calientes, pequeno mas com boa estrutura hoteleira, pode dormir ali na boa.
7. Leve água, petiscos e chocolate para repor energia, leve também óculos, protetor solar, casaco e capa de chuva, numa pequena mochila. Um guia descreveu bem o clima na região: "és como una mujer de humores... muy cambiante", ou seja imprevisível.
8. As agências de turismo em Cusco tem ótimos preços e promoções... procure e fará um bom negócio. Se estiver fora da alta temporada, dá para comprar tudo com um  ou dois dias de antecedência sem stress.
9. Não acredite nisso de "verão" cusquenho, para nós brasileiros... aquilo será fresco durante o dia e frio durante a noite. Leve um bom tênis ou bota de caminhada e roupas resistentes e práticas. Não é lugar para desfile de moda.
10. Leia e informe-se sobre a história antes de ir, não dá para confiar só no que dizem os guias. A visita que fizemos no museu de arqueologia em Lima foi fundamental para entender melhor o vimos. Relaxe, curta a energia que rola por lá... é especial! Seja você esotérico ou não.

Perto do templo do Condor. Arrepiante!
A cidade perdida dos incas entra no top 5 lugares mais incríveis do mundo que já conheci. Bota o Egito no chão. Aliás em matéria de culturas antigas (e pirâmides) minhas favoritas são: Teotihuacan (Cidade do México), Tikal (Guatemala) e Copan (Honduras, na fronteira com a Guatemala). Pensei que nada mais seria capaz de me tirar o fôlego... me enganei em todos os sentidos. Qual a preferida? Difícil dizer... estão empatadas no meu coração. Cada uma tem algo especial, diferente e que a outra não tem.

Amanhã... Vale Sagrado Inca!

6 comentários:

  1. Nossa, Peru está na minha wish list!! Fico imaginando a energia que um lugar como Machu Picchu tem, deve ser algo incrível.
    Guatemala, pelo que ouço deve ser tb bem mística. Essa semana mesmo penduramos em uma parede aqui de casa uma máscara que marido trouxe da Guatemala quando lá esteve há anossss atrás! Ele disse que é um lugar tão pobre, com gente tão simples, mas com uma energia inexplicável.
    Eu tb não encaro trilha de 4 dias não, prefiro o programa das velhinhas, rs...

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    1. A Guate é fora de série... sou suspeita pq morei lá por 2 anos e me apaixonei pelo povo, pela terra e pela cultura. A pobreza lá é grande sim, mas vivem melhor do que no Brasil.
      A trilha de 4 dias, kkkkkkkkkkkk... tenho até vontade de fazer. Em outra encarnação!

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  2. Sempre que posso dou uma olhada no seu blog, adorei tudo que escreveu sobre a viagem, foram otimas dicas, desculpe mais vi que tu foi ao Chile, teria algumas dicas pra passar, temos vontade de ir com as crianças ainda este ano. Parabéns pelo blog é muito bacana.

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    1. Olá sr, sra ou srta anonimous... fui sim, muito bom o Chile. Assim que der tempo passou umas dicas. Bem, do que lembrar... afinal fui em 2010, faz um tempinho.

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  3. Olá sou uma sra..rsrsr, mãe do Gui e da Mi... obrigada, estou correndo atrás de informações de todo lado.

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    1. Vou dar uma organizada nas lembranças e ver o que tenho. Ainda essa semana sai um post made in chile, ok?

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Falaê...

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