quinta-feira, 11 de abril de 2013

Made in Peru (5)

Chimu Cápac - Museo de Antropologia
Terça feira e enfim... fomos ao Museu de Antropologia de Lima! Pequeno, mesmo. Pequeno e bem estruturado. Não dá para comparar com o da Cidade do México, que por sua vez está a anos-luz do Novaiorquino. Mas ganha disparado de qualquer similar que já tenha visitado no Brasil. Sentiram a inveja? Poizé... invejo quem tem museu digno de visita. Cada qual com suas manias e cismas... a minha é medir o grau de educação de um país pelos museus que possui. Não sei se é um critério justo ou eficaz, mas faz parte da minha idiossincrasia - do grego ἰδιοσυγκρασία, em italiano idiosincrasia, em alemão idiosynkrasie, em theco výstřednost e em crioulo haitiano partikularite. Perceberam que andei vendo Tropa de Elite esses dias? 

(ahá, tô pagando 1 pila de vintém furado pra ver aluno de Enem escrever idiossincrasia numa redação! dobro a aposta se o termo for corretamente empregado.)

Entonces o pequeno, bonito, limpo et cetera museu vale a visita, apesar de estar num bairro meio distante de Miraflores - salve o taxi! Poderia ficar aqui #chatiando todos contando tudoooooooo que me chamou atenção lá, mas... boa alma que sou... contentarei-me com algo que fez meu queixo cair e quicar algumas vezes no chão. Ah, a colonização espanhola. Por D'eus, toda vez que penso nela agradeço ajoelhada (virtualmente) por termos sido colonia da zorra portuguesa. Ai, ais, salve salve Portugal, com todos seus defeitos e glórias vãs... Cabral, love you! Caramuru rules. 
OMG, segurem-se na cadeira e tentem não vomitar !


Colonização espanhola, aff. Como explicar? Adoro a Espanha... mas não posso negar que seu povo me encanta tanto quanto me assombra. Os anos na Guatê me fizeram entender bem a diferença entre o que é preconceito racial encrustado por gerações e gerações na psiquê de um povo e aquilo que aqui (tsc) no brazeeeel tentam dizer que é preconceito. Tá pra nascer quem me convença que brasileiro tem preconceito racial. Podemos ter um ou outro boçal por aí, e o temos!, mas nem de longe isso se pode comparar à separação racial, social, cultural e moral vivenciada nos países de colonização hispânica. Nem de longe! Só para compensar essa loucura trouxe como contraponto o trabalho da fotógrafa brasileira Angélica Dass, que vive na... Espanha!... super interessante, é de fazer pensar...  o "catálogo" de cores "humanas" pantone feito por ela, visite o site e tire suas próprias conclusões. Ainda não achei qual minha cor pantonística, rs.


Projeto Pantone - Humanae da brasileira Angelica Dass.
Então, de volta ao que interessa... quase no fim do museu tem um corredor imenso só com essas pinturas (de época) explicando o processo de mixagem racial no Peru colônia. Feito a mando de um muito organizado administrador local. É mole? Todas as misturas possíveis, devidamente catalogadas, etiquetadas, estudadas. Não se pode negar que o espanhol é um ser ... digamos... cioso dos seus deveres, afinal, levaram a sério a tarefa de separar e nomear cada tipo de "gente" existente ali. Josef Mengele não faria melhor! Faria e fez pior. Bem, parando para pensar um pouco diante desse mural racial, dá até para entender como chegamos a produzir "mengeles" entre nós. O que assusta é saber que em alguns cantos pululam neo-mengeles. Não aprendemos muito enquanto raça humana. Dois passos para frente, um para trás. Assim seguimos trôpegos como bêbados na madrugada.
Fiquei ali um tempo tentando imaginar como seria se o governo português fosse diligente (ainda bem que não!) o suficiente para fazer algo do tipo na terra brasilis... Como meus antepassados seriam classificados? Como eu seria catalogada? Quarterona de quê? Quinterona das'donde? Posso ter zóiozul, pele quase omo total, mas isso é só a embalagem, nada mais... Não se deve julgar o livro pela capa. Muito menos pelo papel que o embrulha. No meu sangue corre um dna completamente mestiço, tantas cores, cantos e sabores que nem sei por onde começar. Sou (somos?) como o tabuleiro da baiana. Tem vatapá? Tem. Tem caruru? Tem. Tem negro da Angola? Tem. Tem espanhol, italiano, índio e mulato? Tem, tem, tem, tem! Tem português pobre e naufragado? Também.
Mais fácil achar minha cor no catálogo pantone, aposto!
Até onde sei só me falta um toque indo-oriental para me sentir um tipo de drink sanguíneo exótico mundial. Aff... devia ter arrumado um marido made in china ou japan (ou outro qualquer da região)  pra terminar de completar o álbum genético da minha prole. Minhas babies não tem dna a-m-a-r-e-l-o (fui politicamente incorreta? azar!). Acho um pecado genético... agora é tarde.
Bem, isso é passado. Não se vive de passado mas é preciso ver e entender tudo isso para dar um passo adelante. A verdade é que esse mural mexeu comigo, incomodou. De certo modo, doeu.
Não deixem de visitar o museu. Combinado?
Paroquia Sta. Maria Madalena
Saindo do museu tem uma pequena praça (limpa, linda, bla bla blá), uma ou duas lojas de lembranças (fechadas), alguns restaurantes, e caminhando à direita vê-se uma bela Igreja com um colégio anexo. Consegui entrar 5 minutos antes de fechar, só deu tempo de fazer o sinal da cruz, admirar sozinha o belíssimo altar e ser posta pra fora pelo zelador que me pegou no flagra tentando tirar fotos lá dentro. Sim, eu sei... é feio isso. Tinha placa avisando: NO FOTOS.  Mas... não vou tentar explicar o injustificável. Sei que estava errada. Mas... duro isso de não poder tirar fotos, duro mesmo!
Maridex tinha ficado do lado de fora, procurando taxi... no suburbio eles não passam na mesma quantidade que no centro ou em miraflores. Quando o encontrei do outro lado da rua, percebemos que já passava hora do almoço (estômago faminto roncando como dinossauro) e que estávamos em frente a um tipo de taverna-bar-restaurante. A Antigua Taverna Queirolo (depois descobrimos que eles são famosos no local, e o restaurante ocupa o lugar da taverna original da família que até hoje produz vinho e pisco). Entramos,
Antigua Taverna Queirolo
gostamos do ambiente, gostamos da cara do ceviche e decidimos ficar. Pura sorte (ou não). Lembram que comentei que  o nível da pimenta no ceviche foi aumentando dia a dia? Pois bem... nesse dia eu atingi o ápice do suportável em matéria de pimentas peruanas. Praticamente tive um troço (mas comi tudinho que não sou besta de deixar ceviche - dos deuses! - no prato) alguns momentos depois do almoço, quando já havíamos retornado para miraflores. Suei frio, metade do corpo adormeceu, fiquei mole, pressão quase foi aos pés... tive que deitar no banco da Associação Britânica, enfim... vexame total. Vale a pena comer lá, mas se for peça seu ceviche SEM picante, que o rocoto rojo deles é de matar um!
Museo de Sítio - Batalha de Miraflores - reducto 2
Durante todo resto do dia era um tal de parar para sentar e/ou deitar a cada jardim que passava. Terminamos o dia deitando na relva do Museu de Sítio (guerra com o Chile novamente) Almirante Andrés Cáceres, local aprazível e relaxante... ficamos lá vendo uma turma fazer tai-chi, outra ioga... tudo em meio de um lindo bosque que um dia foi palco de guerra. Não se pode negar que o país reverencia e cuida da memória daqueles que lutaram para defender a pátria. Voltamos à pé para o hotel dessa vez.
Amoremio, o fofo, ficou dizendo que eu tive um AVC-eviche nesse dia. Amado, não?

2 comentários:

  1. Oi Ge! Eu concordo com voce que os paises de colonizacao espanhola tem uma problema muito grande de preconceito racial... A coisa eh horrivel mesmo! Agora "Tá pra nascer quem me convença que brasileiro tem preconceito racial.".. Nao sei se vou te convencer de nada... Mas o fato de ter menos do que nos outros paises latinos nao quer dizer que nao tenha... Tem sim! E tem bastante... nao eh um ou outro, nao.
    Voce deve se lembrar de um texto meu falando q eu nunca senti isso na pele, bla, bla, bla... eh verdade! mas se a gente for nas favelas e perguntar as pessoas tenho certeza que elas pensam diferente de mim...
    E eu ADOREI a foto da taberna!

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    Respostas
    1. Imagino que deve ser horrível sentir isso na pele, mas ainda acho... que o brasil como um todo não é preconceituoso, temos idiotas pontuais que tem preconceito racial principalmente SE compararmos com os países de colonização espanhola. Nesses o preconceito racial ainda está tão presente que vc encontra afixado em lojas e estabelecimentos comerciais em geral um cartaz explicando que é proibido discriminar pessoas e todos podem entrar e devem ser atendidos!
      Dá pra imaginar isso? Em pleno ano 2013... vc sente o desprezo no olhar de quem tem origem "européia" sobre os demais, é algo latente, real e sem disfarces. O preconceito é tão vivo que eu me sentia incomodada. Jamais presenciei algo do tipo aqui, não mesmo.

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