sábado, 26 de janeiro de 2013

Feminista de batom e salto alto!

Outro dia vi esse cartaz, enviado por uma amiga, no facebrooklin. Curti, mas não curti muito. Ia comentar, mas achei o espaço pequeno pra minha verborragia, que nunca foi pouca... então resolvi transformar o que iria escrever lá em post aqui.
O que diz o cartaz do feminismo na prática?

1. Você não é obrigada a sorrir pra ninguém.
2. Experimente sentar de pernas bem abertas, é confortável.
3. Corra com o objetivo de chegar mais rápido, sem se preocupar com a aparência desajeitada dos movimentos.
4. Não tenha receio de gritar, se preciso faça sua voz ecoar por vários quarteirões.
5. Fale palavrões quando tiver vontade.
6. Quando sentir coceira, simplesmente coce.
7. Apóie seus cotovelos em tudo.
8. Espreguice lentamente e estale todos os ossinhos dos dedos.
9. Se alguém está próximo demais e isso encomodar, encare essa pessoa e ocupe seu espaço com o corpo.
10. Em caso de agreção, defenda-se como se a sua vida estivesse em risco.
11. Se estiver andando na rua e se sentir constrangida ou ameaçada por alguém ou um grupo, olhe todos no fundo dos olhos e respire fundo, mexa seus braços, pise firme e contraia seus músculos.
12. Saia sozinha, desfrute de sua própria companhia.
13. Se algúem te abordar e você não quiser conversa, peça com firmeza para que se retire, sem seguida ignore e em último caso enxote (aos berros, se preciso).
14. Você não precisa ceder espaço a quem não quer por perto, nem aceitar coações.
15. Lembre-se a "feminilidade" é uma mentira que coloca sua integridade em risco e prejudica sua autonomia, rejeite a vulnerabilidade.
16. Não é sempre não e nunca um "talvez".

Vamos lá e vamos por partes. Tenho por premissa considerar que todo e qualquer cartaz ou mensagem com cunho feminista é acima de tudo bem intencionada e tem como objetivo ajudar as mulheres a se defender de comportamentos abusivos por parte de outras pessoas. Por isso, vejo com bons olhos esse tipo de iniciativa... ainda que a mensagem emitida tenha ficado confusa e truncada, como neste caso.

Sorria, faz bem. Para você, para os outros e até para seus ideais.
- O que a mensagem "mulher, você não é obrigada a sorrir para ninguém" contribui para a igualdade de gênero? Uma mulher sorridente é fácil? Uma mulher que sorri não tem comprometimento com a causa feminista? Ei, isso em nada ajuda. No imaginário popular, as feministas são tidas, dentre outras coisas, como chatas, mal humoradas e enfezadas. Como toda generalização, não é verdade. Mas, se formos aprofundar... sem melindres, vamos encontrar algo de real nessa imagem fixada. Até posso concordar que "ninguém é obrigado a sorrir para ninguém", mas acho que sorrisos, gentileza e educação ajudam a convivência humana, independente do gênero sexual. Gentileza gera gentileza, já dizia o poeta. Sorria quando e se quiser, não sorria se não tiver vontade. Mas não faça disso um cavalo de batalha, ao menos que goste de passar por ridícula.
Só avisando... sou do tipo que normalmente sorri para o nada e dou bom dia até para as paredes, e para algumas portas também. Aliás, adorooooooooo distribuir sorrisos de miss simpatia para algumas porteiras que encontro por aí, isso abala o dia delas, pois não esperam pelo meu sorriso kolinos fresh de felicidade gratuita. Claro que eventualmente posso até não estar com o be happy - be smile funcionando a mil por hora, tem fases que não dá. Confesso que viro o bicho quando fico ranzinza, aff. Nem eu me suporto nesses momentos dark de coitadismo ou pessimismo existencial. Ninguém merece aguentar uma pessoa que vive 24 hs por dia de cara amarrada, de mal com o mundo. Na boa, prefiro enfrentar a vida, com todos seus problemas e desafios, sorrindo e prefiro também as pessoas que conseguem fazer o mesmo.
A  musa sentada em nome do feminismo! kkkkk
- Sentar de pernas abertas? OMG! O que isso tem a ver com feminismo?!? Alguma implicância ou trauma com os velhos manuais de etiqueta, só pode. Uma mulher feminista tem que ser obrigatoriamente grosseira? Tem que rasgar vestidos, saias, queimar sutians? Sinto muito, pensei que essa fase já tinha sido superada. Boas maneiras, boa educação, cultura e tudo ligado ao feminino  não são empecilhos ao feminismo. Queridaaaaaaaaaaa, você quer se sentar de pernas abertas? Problema seu, sente-se. Mas não se engane pensando que esse micro ato de pseudo rebeldia tenha algum valor (talvez fosse rebeldia em 1940...), ele não significa absolutamente NADA hoje em dia. No máximo, alguém pensará que você é espaçosa, está cansada, é desleixada ou... sem educação. Sabe do que mais... ao menos que você seja uma atriz global, ninguém vai dar a menor bola por ter sentado de pernas abertas. Se toca!

- Ei, quem disse que correr rápido envolve movimentos desajeitados? Por favor, vá assistir uma corrida ou siga seu próprio conselho e corra... além de ser um ótimo (saudável e útil) esporte, a corrida é elegante, seus movimentos são bem feitos e coordenados com o fim de maximar a velocidade pretendida. Ao menos que esteja pretendendo dizer que mulheres correndo se pareçam com patetas desengonçados. Aff.
- Sobre gritar e falar palavrões. Taí uma coisa que concordo. Não tem nada que assuste mais alguém (homem ou mulher) que uma mulher gritando em alto e bom som. O histerismo como arma pode ser útil, se bem empregado. Quanto aos palavrões, podem ser libertadores sim. Agora, convenhamos que uma pessoa que só saiba se comunicar por meio de gritos ou palavrões, ah...  não dá para aguentar. Não dou conta e não quero por perto, mesmo que seja uma mega super ultra blaster liderança feminista.
- Sobre a coceira. Bem, se não for suor, sujeira ou piolho... por favor procure um médico, que pode ser algo pior. Coçar não é um sinal de saúde, não é normal, e nem vou falar sobre não ser educado ou adequado socialmente. E isso vale para homens e mulheres. Me chamem de repressora, enjoada ou chata. Não estou nem aí. Daqui a pouco vai surgir alguma doida dizendo que tirar meleca do nariz em público é um ato de rebeldia contra o sistema patriarcal e tudo que esta aí. Pelamor... um pouco de noção, porfa!
- Apoiar cotovelos? Ai, ai... nem vou entrar no mérito, revejam o tema sentar de pernas abertas. Estou começando a me entediar. Sei lá, mas tem hora que acho que tem uma turma por aí brincando de ser feminista. Posers.
- Noves fora o fato de adorar me espreguiçar e de estalar os dedos... me pergunto: o que isso tem a ver com liberdade ou igualdade de direitos? Quem não se espreguiça não é feminista? What`s the point:?!?
- Sobre sair sozinha... adoro! Amo meu tempo comigo mesma, desfruto dele com prazer. Agora ainda não sei o que essas poucas horas egoístas podem fazer pelo movimento. Mas folgo em saber que ajudo a causa mesmo sem saber, rs.
- Quanto às instruções sobre manter de seu espaço próprio e dicas de auto-defesa. Tudo certo, tudo ok, é vital saber se defender, ainda mais hoje em dia, em que a violência aumenta descontroladamente. Só posso aconselhar que se quiser fazer isso bem feito, vá fazer uma boa aula de defesa pessoal. Fiz e recomendo a todas as mulheres, e a todas mães que coloquem todas suas filhas para aprender krav magá, por pelo menos um ano. Saber o que fazer, como e quando reagir diante de uma ameaça a sua integridade física é de suma importância. E isso requer mais do que conhecimento teórico e conselhos do tipo... "encare ele nos olhos, pise firme, et cetera"...  requer tempo e suor, exige um tipo de postura corporal e segurança que só se obtém com um treinamento sério.
- A "feminilidade" é uma mentira que coloca a mulher em risco?!? Como diria uma amiga: bla bla blá wiskas sachê. Poupe-me!
- Para finalizar: NÃO É SEMPRE NÃO - E NUNCA UM TALVEZ. Frase perfeita e irretocável.

Isso de movimento feminista é uma confusão, mil vertentes, trocentas abordagens, e mais um punhado de donas da verdade. Não sou filiada a nenhuma entidade nem pretendo ser modelo de virtú ou líder de nada além de mim mesma. O alvo do meu micro discurso são meus próprios botões. Apoio e acompanho algumas causas, como a luta por direitos e deveres iguais, salário e condições de trabalho em igualdade de condições com os homens, contra o abuso e violência sexual, et cetera. Só não acho que para ser feminista tenha que ser não feminina. Não vejo porque abrir mão da minha feminilidade. Não entendendo o que se ganha sendo mal educada, mal encarada, mal humorada. Não concordo em me tornar tosca ou masculinizada. Sinto muitíssimo, mas detesto toda forma de radicalismo, mesmo os de vertentes feministas.
Estou longe de ser frágil, vulnerável ou indefesa. Sou da turma que cresceu aprendendo a se virar para não depender de homem nenhum. Não preciso de homem para nada. Isso não quer dizer que não goste de homem, ou que não queira que o homem que amo me entenda, defenda, paparique e me ame também! Gosto de ser bem amada e mimada, se gosto! Aprecio o cavalheirismo, acho que tem que ser valorizado. Do mesmo modo que o machismo deve ser desprezado e combatido. Bons modos, etiqueta, educação, refinamento cultural, gentileza... nada disso é obstáculo ao feminismo. Se for assim... vão fazer o quê? Queimar na fogueira a Glória Kalil, a Danuza Leão ou a Constança Basto? Aff.
Ai que nojoooo!
Até entre as feministas existe preconceito e estereótipos internos a serem vencidos. Um exemplo bobo que aconteceu comigo. Nunca fui uma menina fã de cor de rosa, o azul sempre foi minha cor preferida desde que me entendo por gente. Quando fui crescendo... tomei pavor da cor rosa por ver nela uma representação de menininhas bobas, babados e frufrus. Tinha horror do padrão doce princesinha rosada, achava um nojooooooooo. Ainda detesto meninas (e mulheres) bobas e frufrus. Resumo da ópera: rosa era a cor do inimigo. Rosa nem pensar! Com o tempo associei cada vez mais a cor à futilidade feminina e corria dela como o vampiro da luz do sol. Já estava formada, casada, trabalhando, toda dona do meu nariz... quando um dia, numa loja me permiti experimentar um vestido rosa. Foi mais pela insistência da vendedora, que era antiga conhecida. Ela vivia me dizendo que a cor combinava comigo. Eu morria por dentro toda vez que ouvia isso, mas... resolvi testar, só para provar para ela que isso era uma bobagem, um engano. Cor de rosa em mim? Nunca-jamais! Vesti... e quase morri de susto ao encarar o espelho. Não é que ficou bom? Foi um susto e um custo admitir que sim... a cor me caía bem. Mais duro ainda foi tomar coragem para vencer meus preconceitos pessoais e usar aquele vestido... cor de rosa, rosinha claro, rosinha mulherzinha! Comprei como um desafio e adorei. Descobri que a cor ou a roupa de alguém não modifica o que ela é, pensa ou faz. Usar cor de rosa não modificou meus princípios ou meu carácter, mas mudou meu ponto de vista sobre o que é... ser feminista.
Ah, sim... podem atirar as pedras e achar ruim se quiserem. Quer acreditem ou não, gostem ou não, me considero feminista. Feminista de batom e salto alto!

6 comentários:

  1. Gê,gostei das tuas colocações,sempre diretas e objetivas.Acho que ser feminista,ou lutar pela causa da mulher,vai muito além do que estava escrito naquele cartaz (sem falar nos errinhos de português..hihi..)

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  2. Disse tudo, e com todas as letras.
    Essa visão distorcida do feminismo me cansa... é preciso que nossas vozes se levantem de maneira coerente e bem articulada. Senão é um tiro no pé, como este "cartaz".

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  3. Madi, fiz de conta que nem vi os errinhos, é dose, não é?
    Bel, pior que cansa msm, um tiro no pé = falou tudo!

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  4. GÊ, COMO SEMPRE, SUAS COLOCAÇÕES SÃO MUITO PERTINENTES E INTELIGENTES ... PARABÉNS

    QUERO APROVEITAR ESTE COMENTÁRIO PARA TE CONTAR QUE SOU LEITOR ASSÍDUO DO SEU BLOG. SUAS COLOCAÇÕES SÃO SEMPRE BEM HUMORADAS, MUITO CLARAS E BEM ESCRITAS ... OUTRO DIA PENSEI QUE ESTÁ NA HORA DE VC PENSAR EM ESCREVER UM LIVRO OU, QUEM SABE, UM TEXTO PARA O TEATRO (SOU FÃ)... TEXTOS QUE ABORDAM O COTIDIANO SÃO SEMPRE UM SUCESSO ... FOI A DICA ...

    MANDA UM FORTE ABRAÇO P/ O MEU AMIGO FLÁVIO !!!!

    BJO NAS MENINAS... RESPEITOSO ABRAÇO.

    MARCELO MARIATH.

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    1. Por essa não esperava, me pegou de surpresa, Mariath. Gostei muito de saber que lê o blog, valeu! Abraço.


      (agora que fez o primeiro comentário... pode continuar, não se paga pedágio aqui,rs)

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  5. Oi Gê. Eu acho que o feminisno tem reivindicações muito importantes e o considero necessário.
    Os exageros e a intolerância é compreensível quando se trata de uma militância, apesar de chatos...
    Tem horas que pego no pé das feministas, outras que eu divulgo alguma idéia interessante e por aí vai. E graças ao movimento e suas conquistas, nós como mulheres podemos estudar, votar e estar aqui compartilhando idéias!
    Sobre sentar de pernas abertas, por exemplo, é uma crítica às regras de etiqueta que oprimiram as mulheres durante tantos séculos. Eu sento de perna aberta? Não. Mas se um dia eu sentir vontade, eu vou sem constrangimentos!
    Mas também, como você mesma disse, não devemos perder de vista as boas regras de educação para se comportar em algumas ocasiões. Afinal, não existe nada mais feio do que pessoas fazendo cena ou criando constrangimentos com o seu comportamento na festa ou casa dos outros.

    Ontem eu postei uma tira feminista no meu Fb e me ironizaram. Nela dizia que o pensamento de que devemos ser uma dama para a sociedade e uma puta na cama é um pensamento machista. Mas continuo firme de que a mulher liberada na cama não é puta e devemos combater o pensamento de que nossa conduta sexual não diz nada sobre a nossa moral. Mas continuo levando...

    Enfim, eu e as minhas contradições...

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Falaê...

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