quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Tem o certo. Tem o errado. E tem todo o resto.

O cafa e a pri - casal perfeito!
Claro que o que vem abaixo serve para um monte de gente (se a carapuça servir...), mas estou escrevendo por conta de uma queridona que pediu opinião sobre o caso de um certo moço e uma outra moça. Não resisti a dar pitaco no causo e acabei pensando sobre a questão. O mais triste de tudo é saber que isso é mais comum e corriqueiro do que imaginamos. 
Isto posto... vamos lá!

A questão de fundo é a velha e clássica questão do adultério (ui, palavrinha véia como a serra): Pessoa X é casada com pessoa Y, naquele modelo sonhado de comercial de margarina: todos be happy. Pessoas X e Y tem filhinhos A B C. Um belo dia pessoa Y conhece biblicamente pessoa W e se encanta... acha que redescobriu o sentido do amor, da vida e até do universo = enlouquece. A partir daí podem ocorrer algumas variantes no enredo. Pessoa Y pode conseguir manter tudo em top secret e passa a levar uma vida "com emoção", equilibrando família e amante (hipótese 1). Pessoa Y se separa de X (avec A B C) e depois de um tempo cansa de W e resolve se tornar um especialista no alfabeto, em todos os alfabetos (hipótese 2). Pessoa Y pode também num ato de loucura total, depois de se livrar de X e cia, casar com W e ainda faz C D... (hipótese 3). Pessoa Y pode ainda ficar brincando de cangorra... ora com Y, ora com W até decidir com qual "prefere", enquanto isso a cabeça de A B C vai pra cucuia. Tem ainda o caso de Y largar W quando se dá conta que vai perder de verdade X e toda sua família... mas é raro, mesmo pq vai precisar contar com o perdão de W e a compreensão de A B C - coisa difícil atualmente. Perceberam que não faltam de opções para pessoa Y e restam bem poucas para pessoa X? Em geral X fica com A B C e precisa se virar nos trinta para dar conta de tudo já que... em regra geral Y esquece que a prole precisa de coisinhas básicas como comer, vestir, estudar, etc... nem vou comentar sobre a questão emocional e psicológica. A ironia final fica por conta de Y jogar fora todo seu antigo discurso de homem honrado (bom marido, bom pai, bom amigo... gente boa, elegante, sincera e honesta) e passa a defender a tese de que "hoje em dia é assim", "separar não é um bicho de sete cabeças", "estou seguindo meu coração", "deixem de ser caretas, o mundo mudou" e cia ilimitada. Alguns tem a cara de pau suficiente para pedir (ou exigir) que A B C aceitem, convivam e tratem bem sua neo-amada e sempre "inocente" W, ah... boa parte deles garante que essa "nunca teve culpa de nada!".  Conheço um Y que teve a caradura de chantagear a filha de 13 anos com a seguinte proposta, te levo pra Disney, mas só se... vc ficar amiguinha de W pq "é claro" que ela vai junto!  Pior foi ouvir a criança dizer que para não perder o amor do pai, se sujeitaria a isso. Seria "boazinha" com a outra. 
Jura, pai? Para ter seu amor tenho que ser amiguinha dela?
Quem nunca viu, viveu ou ouviu falar de algo parecido? Na própria família, no trabalho, na vizinhança... acontece toda hora esse tipo de situação. Ainda que na maioria dos casos Y seja homem... também há casos de mulheres assumirem esse papel. Conheço uma que largou duas crianças pequenas, de 5 e 2 anos e caiu na vida... O que significa que para ser canalha o sexo (ou opção sexual) não importa, não é prerrogativa de um gênero específico, há espaço para todos nesse ramo.

Diante disso é complicado não julgar. Julgar o comportamento do Y e rotulá-lo de cafajeste, cachorro, sem vergonha, et cetera ad infinito e além. Julgar o comportamento de W e classificá-la de bandida, safada, galinha, periguete (ou piriguete? ou priguete?... vou fazer como uma conhecida e reduzir para "pri" que fica mais "fofo"), puta e cia ilimitada. A outra ponta do triângulo vira automaticamente uma santa de altar, coitada pobre coitada, mulher virtuosa e mãe perfeita. Ainda que tudo isso possa ser verdade... pode ser que não seja bem assim. 
E é sobre julgamentos que quero falar. Sobre julgamentos e umas outras coisinhas que aprendi pela vida (me sentindo A sábia, rs). Se estiver sem fôlego recomendo parar a leitura por aqui... o assunto vai render e tem grandes chances de ficar chatoooooooo! Juro solenemente que não pretendo dar lição de moral pra ninguém. 
Vamos aos fatos, nós (todos nós, até vc aí que se sente espiritualmente superior) julgamos. Nós rotulamos, classificamos e separamos pessoas em "categorias" como se coisas fossem.  Quem nunca julgou jogue a primeira pedra! Já que julgar é inevitável e faz parte da nossa natureza humana, vamos tentar controlar essa nossa corte de julgamentos interna e evitar proferir sentenças por aí sem antes tomar alguns cuidados. 
Antes de tudo analise e veja qual seu nível de envolvimento com as partes. Há uma grande chance de não ser isento para fazer um julgamento imparcial. Tudo bem que pessoalmente (euz) já tenha superado essa ilusão acerca da existência de juízes e julgamentos imparciais. Fazer o quê, né? Tentar, pelo menos tentar, ser imparcial. Ver o caso sob todos os ângulos, ouvir todas as partes, basear sua opinião em fatos e não em puro "achômetro". Isso só para começar... Procure ficar longe do disse-me-disse e busque investigar os acontecimentos, as ações nem sempre correspondem ao narrado, toda história tem pelo menos três versões, a dos envolvidos X  e Y (sentiram que já tirei W da jogada?) e a verdadeira. Antes que digam qualquer coisa... vou ser direta e reta: ainda que W seja parte da confusão, costumo ver seu papel não como co-réu e sim mera cúmplice. Motivo? Bem, até onde sei foi Y que fez juras de amor eterno e prometeu "amar e respeitar... até que a morte os separe" X. A pessoa W pode ser tuuuud'i-ruim no mundo, mas não quebrou nenhum compromisso, não casou-juntou-namorou, jurou na frente do juiz, do padre, da família e dos amigos que aquela relação era pra valer,  já que nunca teve nenhuma relação com X. Quem traiu o amor e a confiança, quem destruiu sonhos e corações foi Y, a W não cometeu esse ato (ia escrever crime, mas adultério não é mais crime faz tempos! aleluia, amém). Não dou conta da turma que fica chorando pelos cantos culpando a pessoa W e achando que o pobrezinho do Y foi enfeitiçado pela bruxa. Por favor, um pouco mais de equilíbrio avec bom senso nessa hora. Manter os pés na realidade é bom e faz bem.
Sendo ainda mais sincera: se Y for mesmo o cafa blaster descoberto, o par ideal dele é uma bandida W. E mil vivas para a X que se livrou do dito cujo. Antes só do que mal acompanhada. Estou certa ou estou errada? Certissima (ouviram as pulseiras do sinhozinho Malta ao fundo? #roquesanteirofeelings).
Sabe porque processos demoram para ser julgados? Porque é preciso de tempo (sim, do maldito tempo) para investigar, colher provas, ouvir a acusação, as testemunhas, os peritos, a defesa... e deixar os ânimos se acalmarem) para um juiz maturar sua convicção final sobre a questão. Julgamentos precipitados não costumam dar em boa coisa. 
O grande mestre da vida como ela é, Nelson Rodrigues, dizia que "qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado." Acrescentaria... e julgou errado também! Afinal o único modo de não cometer um erro desses é não julgar, ou não viver. Como tenho esse certo apego ao ato de respirar, faço parte dos viventes que julgam. Por vezes acertei, noutras errei feio. 
Temos o costume de achar que o que é certo para nós vale para todos. Agimos (partindo da suposição que não há hipócritas entre nós) de acordo com o que aprendemos e/ou entendemos ser o certo, temos um código de honra e princípios pessoais que achamos ser o melhor e o mais adequado para everybody macacada. Do mesmo modo que pensamos que o nosso código moral é o melhor, achamos que o nosso time de futebol, partido político, carreira profissional, pitacos de moda, escolhas pessoais e preferências sexuais são... the best. Errados são os outros. Se formos bem educados diremos que eles - os diferentes - estão apenas equivocados, mero engano que, claro, será sanado depois de travar contato com nosso ser iluminado. Fiat lux. Isso não é crítica, é real. Ou melhor, é um chamado para fazermos uma auto-crítica (me too). 
Uma coisa é você achar que o seu caminho é o certo, outra bem diferente é achar que o seu caminho é o único correto. Daí para o totalitarismo não falta... NADA!  Não dá para julgar a sério a vida de ninguém se não conhecemos as dores, alegrias e renúncias dela.  Então, na hora de emitir um parecer sobre alguém avalie bem sobre quais bases se fundam seu julgamento. Espere até sentir que tem base sólida, bons fundamentos, antes de sair condenando pessoas. Se puder dar uma dica, diria para não julgar a pessoa, e sim seus atos ou atitudes em eventos reais. Isso já evita muito engano, e previne que caiamos na armadilha de julgar o livro pela capa.
O cara parece um cafa? Tem cara de cafa? Agiu ou age como cafa? Seu "modus operandi" é de cafa? Tem curriculum de cafa?  Há grandes chances de ser um cafajeste sim. Mas pode não ser. 
[por favor, lindas princesas sonhadouras... não leiam isso como um incentivo ao mal hábito de beijar sapos -cafas de contos de fadas - o seu beijo pode até ser de amor verdadeiro e ele até pode se travestir de príncipe encantado... mas as chances dele continuar coaxando pelas lagoas da vida real é grande... bem grande! pense bem antes de... e não reclame do seu infortúneo depois]
A periguete (doravante chamada de pri) parece uma pri? Se comporta como se uma fosse? Tem cara-crachá e curriculum de pri? Sinto informar que tem tudo para ser uma pri sim. Mas pode não ser, aparências enganam e nem sempre a primeira impressão é a verdadeira. 
Na dúvida... vá com calma e deixe a poeira passar, a cabeça esfriar e o mister time agir antes de sair botando pose de juiz todo poderoso e senhor da razão (leia o texto no feminino se preferir). Calma, muita calma nessa hora. Principalmente se você fizer parte do rol A B C ou D C E. Laços de sangue são laços de sangue e uma hora isso tem que ser levado em consideração, pouco importa o nivel de canalhice de Y. Relações mal resolvidas entre pais e filhos causam sérios danos à saúde. Física, mental e espiritual. Busquem ajuda especializada, procurem conselho, escutem muito... e respeitem o seu próprio tempo. Se engolir sapo já é ruim para X, imagine para os filhos. Num mundo ideal, pais não se separariam e seriam felizes para sempre. Ou se separassem, isso aconteceria da forma mais civilizada e elegante possível. Num mundo ideal... não haveria casos desses para serem julgados, seja na esfera pessoal ou na vara de família (judiciário). Trágico é quando sai da vara de família e entra na penal... evitem se possível.
Conhece a teoria tostines? Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?!? 
Acontece algo parecido com o ato de julgar... Li certa vez que: O bom julgamento vem da experiência. E de onde vem a experiência? Do mau julgamento! Santo Mark Twain. Um dos métodos mais eficazes para aprender a fazer algo certo, é fazer errado. Aprendemos muito com as mancadas que damos. Oh, se aprendemos... 
Pois não é que é assim mesmo? Ficar quieto (calado) vai te poupar de julgar errado, mas também vai te privar da chance de estar certo e ajudar alguém. Nem sempre se omitir é a melhor escolha. Raramente a vida deixa que passemos por ela sem ter que defender nossa opinião sobre a solução ideal para um problema. Já é para ficar feliz se, por sorte, não fazemos parte do problema que está sendo avaliado. Ainda que o silêncio seja tentador, nem sempre podemos lavar as mãos diante do que está na nossa frente. Certo ou errado, somos chamados a dizer de que lado estamos ou se estamos em cima do muro. Coragem, minha gente, ficar em cima do muro é a pior das posições! 
Para encerrar... um pouco dois seres ímpares:
Gandhi: O homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado fazendo o errado do outro. A vida é um todo indivisível.
M. Luther King: ... temos adotado um especie de teste pragmático para o certo e errado - aquilo que funcionar é o certo... Tudo bem em desobedecer os dez mandamentos, apenas não desobedeça o décimo primeiro: não se deixe apanhar!
Quem diria que mister King conhecia uma variante da nossa lei de Gérson? 
Pois é... malandro é malandro, mané é mané e cafa que é esperto só quer tirar vantagem, se possível com o aplauso da galera. 

2 comentários:

  1. Afe, isso tudo é muito complicado, né? Eu não sei ficar em cima do muro, mas eventualmente me considero um pouco radical, por isso que pedi a opinião de vocês lá no blog. E fez toda a diferença para mim, de verdade!

    Beijo grande!

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