quinta-feira, 18 de outubro de 2012

As alegrias da maternidade (oh!)

Mãe faz tudo isso e às vezes até lava a louça!

"Respira. 
Serás mãe por toda a vida. Ensina as coisas importantes. As de verdade. A pular poças de água, a observar os bichinhos, a dar beijos de borboleta e abraços bem fortes. Não se esqueça desses abraços e não os negue nunca. Pode ser que daqui a alguns anos, os abraços que você sinta falta, sejam aqueles que você não deu. Diga ao seu filho o quanto você o ama, sempre que pensar nisso. Deixe ele imaginar. Imagine com ele. As paredes podem ser pintadas de novo, as coisas quebram e são substituídas. Os gritos de mãe doem para sempre. Você pode lavar os pratos mais tarde. Enquanto você limpa, ele cresce. Ele não precisa de tantos brinquedos. Trabalhe menos e ame mais. E, acima de tudo, respire. Serás mãe por toda vida. Ele será criança só uma vez."


by Vanessa Fraiz



Respira, fundo.

Ser mãe não é ofício remunerado, mas dá trabalho para toda vida. Esqueça de vez hora de descanso, fim de semana e feriados, décimo terceiro ou férias... aposentadoria, nem pensar. Ser mãe é desapegar-se do narcisismo e do vil metal, é entrar num shooping e só ver coisas de bebê para o bebê, não importa a idade do seu "bebê". Para não dizer que maternidade beira à escravidão, considere-se gerente voluntária em período integral de um projeto sem fim. Caso seja ateia,  o serviço estará encerrado no dia da sua morte. Caso não seja... 
Se não sabia o que era medo, vai conhecer. Se pensava que já o conhecia, descobrirá que estava enganada. Ninguém sabe o que é temer até amar de verdade. E não há amor maior do que o que uma mãe sente... Mãe teme, mãe treme. Mãe suspira de alívio toda vez que faz algo certo, ainda que por acaso. Um dia me disseram que galinha não mata seus pintinhos. Vou acreditando nisso - piamente - apesar das exceções. Mães que maltratam me assustam. Há momentos as compreendo completamente, e isso me aterroriza. Que mãe já não quis esgoelar seu filhote? Ou defenestrá-lo?  Eu já. Por um triz se safaram... mas confesso: vontade tive muita.

Mãe não dá vida, isso é detalhe. Mãe ensina a viver, o que é muito mais complicado. Mãe tem que estar presente ou se arrepende. Mãe é a eterna culpada, sempre atarefada, seja dividida ou multiplicada. Tudo é a mãe: dar de mamar, trocar roupa, catar piolho, ouvir o pediatra dizer "é só uma virose, mãezinhaaaa", brigar no pátio, escovar os dentes, levar e trazer na escola, no curso de inglês, jazz, futebol, aniversário. Mãe cura com beijinho. Mãe é milagreira, faz o impossível. Tem pai que faz isso também, esses são poucos, acho que queriam ser mães. Alguns são. 

Toda mãe surta, mais cedo ou mais tarde. As que parecem tranquilas e sob controle são as mais perigosas, nem sabem que o perigo que são. Não existe mãe com ar blazé. Se vir uma, desconfie... está apenas disfarçando a verdadeira bomba relógio que é. Ser mãe pira qualquer uma. Jurei que jamais faria "certas coisas" até me pegar colada ao lado do beço conferindo se o meu pedacinho de céu estava respirando, afinal durante dois anos inteiros fui acordada - de segunda a segunda - antes das seis da manhã. E naquele dia... naquela manhã de sábado, o neném resolveu dormir até as oito. Fiquei vigilante, plantada ali. Aproveitar e dormir um pouco mais? Tá louca?!?! Bem se vê que não é mãe... não sabe nada. 

Mãe: ensine a valorizar as curvas mais importantes desde cedo.
Já ensinei algumas coisas úteis: usar protetor solar, não pegar o que não é seu, pular onda, não comer meleca do nariz, falar por favor antes e obrigada depois, e que de vez em quando regras podem ser deixadas de lado, como por exemplo comer a sobremesa antes da refeição (arrotar foi o pai que ensinou). E a ler, e a estudar, e a perguntar, e a insistir, e a não fazer drama... e a rezar agradecendo pela sorte de me terem como mãe. Viu como sou boa? Sentiram a humildade?

Sobre abraços e beijos, disse que mesmo quando muito nunca é o bastante ou suficiente, e que é bom andar de mãos dadas. Já fui explicando que continuarei a andar de mãos dadas mesmo que elas achem isso um mico, mesmo que já sejam adultas. Não abro mão desse privilégio, é meu por direito de parto e não aceito protesto. Ensinei também que como mãe sempre tenho razão, mesmo não tendo e que isso faz parte da vida. Mãe erra, mãe se engana, mãe perde a razão, fica sem eira nem beira, desce do salto, dá vexame, mãe desconhece limites... é assim mesmo. E mesmo estando totalmente equivocada, está certa. Vai entender? Só quando for mãe também.  

O que foi mais complicado foi explicar que mãe também é gente como a gente, que um dia já foi criança, adolescente, jovem... que teve sonhos. Que ainda os tem, por mais incrível que isso possa parecer. A maternidade faz isso com a gente, tudo torna-se prioridade máxima, menos a mãe. Quando uma vizinha teve filho, fui lá e deu um presente para ela: a mãe. Nada para o recém-nascido. Ela quase chorou (disfarçou bem), disse que tinha sido a única a lembrar dela. É assim mesmo, a gente vira um porta-bebê auto sustentável que anda, fala e esporadicamente toma banho e faz necessidades, sempre com a porta aberta, para escutar o choro do pimpolho. Mãe come quando dá, normalmente mal, muito ou pouco. Vai depender do que restou e do tempo que sobrou. Mãe não tem tempo, mãe não tem relógio, mãe é fera enjaulada.  

Sabiam que mãe é mulher?!? Impressionante. Que mãe faz e gosta de sexo. Ou como você acha que foi feito? Mãe beija, mãe transa, mãe se separa, mãe se dá mal, mãe namora, mãe sofre. Mãe, que absurdo, tem até deprê. E que se ser mulher é complicado, ser mulher e mãe é mais difícil que  o exercício de cálculo que o professor te passou. Tem o jeans que ficou apertado, o biquini que não  entra, fora a menstruação, a tpm e a cólica  de todo mês. Tem o medo da pílula falhar, apesar de usar camisinha. Atenção: tem que usar camisinha sempre! Que ser mãe foi o momento mais incrível da sua vida, mas não... não quer outro bebê. Não quero passar por aquilo tudo de novo. E, sim, foi uma experiência maravilhosa e medonha ao mesmo tempo... indescritível. E, não, isso não quer dizer que você, pirralho, deu trabalho, foi um problema ou atrapalhou alguma coisa. Mesmo que tudo isso tenha acontecido, nada tem importância. Passou, passou... vivas! Mãe é uma sobrevivente. Ressalte-se que é a última sobrevivente a deixar a canoa. Mães não abandonam o barco e mesmo debaixo da maior tormenta fazem a última checagem: nenhum filho fica para trás. 

Yeah, we can do it!
Já avisei, se um dia começar com o sermão mãe-coragem, ou seja: chantagem, pode sacar o cartão vermelho! Mas como a gente faz naquelas horas de aperto? Em que o tico e teco falham (se é que ainda resta algum dos dois em funcionamento) e que só nos lembramos e apelamos para os quilos de fraudas sujas, as noites em claro, os sustos na emergência pediátrica... ou aquela mordida que levou (ou deu) no jardim de infância. Não vale, decretei. Não usarei como argumento nem mesmo as manhãs nos parquinhos, os teatrinhos infantis e as malditas reuniões escolares... Tudo isso estava no pacote, junto com o Livro do Bebê e trocentos outros manuais que como boa e antenada mãe devorei.  

Quer dizer, pensei que não usaria, mas apelei e já usei desses golpes baixos. Mãe que é mãe, uma hora acaba capitulando e... manipula. Pegue esse seu cartão vermelho e vai reclamar com o bispo! Criançada sem noção de perigo, olha lá com quem está falando: sou sua mãe! Filho é bicho abusado mesmo. Vê se pode!?!? Mãe é uma colagem de clichês. 

Cara colega, uma coisa é certa, um dia você se verá repetindo igualzinho... algo que sua mãe fazia e dizia. Faz parte. Assimile essa verdade, doerá menos na hora agá. Mães são todas iguais, mas umas são mais iguais que outras. Você tem grandes tendências a ser mais parecida com sua mãe do que imagina. É isso aí, fatos da vida.  Achava sua mãe chata, implicante, pentelha e sem noção? Azar seu quando se descobrir sendo... a chata, a implicante, a pentelha e a sem noção. Não existe mãe moderna, toda mãe nasce antiga, ancestral, das cavernas. Toda mãe é Gaia, terra em combustão. Aquela lenda de que prostituição é a profissão mais antiga do mundo é um desaforo. A profissão mais antiga de todas é a maternidade, e até hoje não temos reconhecimento. Puta teve mãe, tem mãe que é puta. O monte de político corrupto desse país está aí para comprovar a fecundidade delas. Mãe merece ser reconhecida, pelo menos isso.

Sabe do que mais? Maternidade deveria ser atenuante. Na verdade toda mãe é inimputável, ou deveria ser. Pela reforma do código penal, já.
Fulana resolveu ter um piti e sair na rua de roupão gritando pelo filho que não aparece às duas da matina? Tá certa! Beltrana tá carregando o pirralho pelas orelhas no meio do shooping? Está coberta de razão. A outra resolveu fazer dança do ventre ao meio dia enquanto largou o filho na casa da vizinha-tia-avó só com duas bolachas mabel? Deixa ela! 
Com mãe não se mexe. Com mãe não se discute nem se briga. No máximo se pode conversar, com jeitinho... se ela estiver de bom humor num dia particularmente feliz e ensolarado. Caso contrário, desista. Mãe precisa de uma folga e de ajuda. Mãe precisa respirar, nem que seja de vez em quando. 

Mãe que trabalha fora de casa é heroína. Ser heroína também é uma droga, não resolve nada. Aliás só aumenta a confusão. Alguém me ensina como conciliar trabalho, filho, marido e vida pessoal? Ainda não consegui. Tem sempre um indo por ladeira abaixo.... Quando tive que optar, acabei escolhendo o mais importante: viver. Filho ainda tem e sempre terá preferência sobre dinheiro, carreira ou qualquer outra coisa para mim. Se fosse para ver meu bebê sendo criado por outro, babá ou creche, era melhor não ter gerado. Claro que só entendi isso depois de ter tido filho, antes estava tudo perfeitamente planejado: creche, babá, escola, etc... enquanto fazia minha pós. Mulher maravilha perde! Todos os planos foram refeitos, tudo foi revirado de cabeça pra baixo. Filho tem esse dom, muda nosso mundo sem pedir licença. Não há organograma que resista à maternidade.

Mãe no fim do dia.
Levei anos sem respirar, precisei fazer yoga para reaprender. Agora sou mãe que respira e suspira. Respira, suspira e reza. Respira, suspira, reza e agradece no fim do dia por tudo estar - aparentemente - indo bem. Sem maiores traumas ou danos colaterais. Estou enganando quem? Tem horas que o ar ainda me falta...


Só não entendi ainda como é que deixam qualquer uma ser mãe. Tipo eu, por exemplo. 

Um comentário:

  1. Ah,que post interessante,Gê...pensei muito sobre ele,e claro que não cheguei a conclusão alguma,exceto que ser mãe é "padecer no paraiso",etc. e tal..mas isso eu já sabia,a minha já tinha me contado..rss..o que eu não sabia, além de que toda a minha vida viraria de cabeça pra baixo, é que esse amor é incondicional, realmente maior do que tudo,do que nós mesmas, e que na hora H,de defender nossos filhotes,viramos feras,ninguém nos segura!

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