“O que me interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo de trabalhar e descobrir o mais que possa a entidade nacional dos brasileiros. Ora depois de pelejar muito verifiquei uma coisa que me parece certa: o brasileiro não tem caráter. Pode ser que alguém já tenha falado isso antes de mim porém a minha conclusão é uma novidade para mim porque tirada da minha experiência pessoal. E com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no sentimento na língua na História na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional.
Os franceses têm caráter e assim os jorubas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo iminente, ou consciência de séculos tenham auxiliado, o certo é que esses uns têm caráter. Brasileiro não. Está que nem o rapaz de vinte anos: a gente mais ou menos pode perceber tendências gerais, mas ainda não é tempo de afirmar coisa nenhuma. […] Pois quando matutava nessas coisas topei com Macunaíma no alemão de Koch-Grünberg. E Macunaíma é um herói surpreendentemente sem caráter. (Gozei)”
Os franceses têm caráter e assim os jorubas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo iminente, ou consciência de séculos tenham auxiliado, o certo é que esses uns têm caráter. Brasileiro não. Está que nem o rapaz de vinte anos: a gente mais ou menos pode perceber tendências gerais, mas ainda não é tempo de afirmar coisa nenhuma. […] Pois quando matutava nessas coisas topei com Macunaíma no alemão de Koch-Grünberg. E Macunaíma é um herói surpreendentemente sem caráter. (Gozei)”
Mário de Andrade, em prefácio não publicado de sua obra Macunaíma.
Dizem que o mais difícil não é descobrir algo novo, é ver o óbvio. Aquilo que está a vista e ninguém vê (ou quer ver). Durante os anos do desgoverno Lula, uma pequena turma de teimosos (os infelizes do contra, os 14% que não aplaudíamos o governo: nós) gastou saliva e escrita para tentar mostrar o que estava na cara de todos. Alguns chegaram a ficar doentes, criaram úlceras, outros cultivaram dores de cabeça e o estigma de chatos. A política nacional chegou a me deixar doente, e o pior... descrente. Amadureci.
Não foi fácil aceitar que seu povo é macunaíma por excelência. Que caráter é opção descartável. Não foi com suavidade que entendi que nosso povo não liga de estar sendo roubado, enganado e passado para trás desde que receba seu pão e circo em dia. Alguns disseram que ele - o povo - estava sendo apenas pragmático. Quem devia mudar era eu, que não me debatia em vão com a realidade. Não tenho problemas em ver a realidade por mais fantástica e surreal que seja, tenho em tomar ela como ideal ou correta quando não o é. Não me conformarei nunca com a lei de levar vantagem em tudo. Não nasci com esse tipo de esperteza. Não admiro que possui esse dom. Tampouco o invejo.
Algumas dores e decepções ajudam a crescer. Espero que o sofrimento sirva de algo para o país. Passei do tempo de ter ilusões em demasia. Agora surge ele, Marcos Valério, que assustado com o destino começa a falar tudo o que sabe. Cansado de tudo conta a verdade e dá o nome aos bois, para desespero da estrela vermelha e seus seguidores. Aponta o dedo para o até então intocável chefão: Lula sabia, Lula controlava, Lula comandava o mensalão de dentro do Palácio presidencial.
Isso todas as baratas tontas da corte sabiam, todas mosquinhas que voavam entorno do poder de Brasília sabiam. Os ratos de esgotos sabiam... todos: cobras, jacarés e elefantes sabiam que o Sapo rei roubava mais do que qualquer outro. Sinto informar que o partido, os sindicatos, os intelectuais, a imprensa e o povo... até o povo sabia. Só que ninguém se importava, verdade seja dita. Todos são macunaímas de corpo e alma.
Espero que o manobrista do mensalão tenha tempo de depor em juízo e contar tudo o que sabe antes de ser morto. Se o país tiver esta sorte, ele conseguirá. Por muito menos (monetariamente falando) PC Farias morreu. Aguardando os gritos aloprados que virão... faz parte do show.
Se veremos o poderoso chefão na cadeia? Ah, não sei. Desconfio que muito dificilmente. Imagino que neste momento alguém esteja afogando as mágoas em litros de Château Lafite Rothschild. Faz tempo que a marvada 51 foi abolida na mansão dos Silva. Forbes é para quem pode.
Mas não custa sonhar com todos na prisão... em nome de um país melhor.
Mas não custa sonhar com todos na prisão... em nome de um país melhor.
Perdoem-me se não tenho alma de Macunaíma.
Sinto dizer que jamais a terei.
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