sábado, 15 de setembro de 2012

Macunaímas de corpo e alma.


“O que me  interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo de trabalhar e descobrir o mais que possa a entidade nacional dos brasileiros. Ora depois de pelejar muito verifiquei uma coisa que me parece certa: o brasileiro não tem caráter. Pode ser que alguém já tenha falado isso antes de mim porém a minha conclusão é uma novidade para mim porque tirada da minha experiência pessoal. E com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no sentimento na língua na História na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional.    
     Os franceses têm caráter e assim os jorubas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo iminente, ou consciência de séculos tenham auxiliado, o certo é que esses uns têm caráter. Brasileiro não. Está que nem o rapaz de vinte anos: a gente mais ou menos pode perceber tendências gerais, mas ainda não é tempo de afirmar coisa nenhuma. […] Pois quando matutava nessas coisas topei com Macunaíma no alemão de Koch-Grünberg. E Macunaíma é um herói surpreendentemente sem caráter. (Gozei)”  
Mário de Andrade, em prefácio não publicado de sua obra Macunaíma.



Dizem que o mais difícil  não é descobrir algo novo, é ver o óbvio. Aquilo que está a vista e ninguém vê (ou quer ver). Durante os anos do desgoverno Lula, uma pequena turma de teimosos (os infelizes do contra, os 14% que não aplaudíamos o governo: nós) gastou saliva e escrita para tentar mostrar o que estava na cara de todos. Alguns chegaram a ficar doentes, criaram úlceras, outros cultivaram dores de cabeça e o estigma de chatos. A política nacional chegou a me deixar doente, e o pior... descrente. Amadureci.
Não foi fácil aceitar que seu povo é macunaíma por excelência. Que caráter é opção descartável. Não foi com suavidade que entendi que nosso povo não liga de estar sendo roubado, enganado e passado para trás desde que receba seu pão e circo em dia. Alguns disseram que ele - o povo - estava sendo apenas pragmático. Quem devia mudar era eu, que não me debatia em vão com a realidade. Não tenho problemas em ver a realidade por mais fantástica e surreal que seja, tenho em tomar ela como ideal ou correta quando não o é. Não me conformarei nunca com a lei de levar vantagem em tudo. Não nasci com esse tipo de esperteza. Não admiro que possui esse dom. Tampouco o invejo.
A ação penal 470 do STF o maior roubo cometido contra o Brasil está sendo julgado, naquele ritmo de antes tarde do que nunca, devagar e sempre... O mensalão é fato que não pode mais ser negado, doa a quem doer. Nunca antes na história desse país... adoro, é divertido nesse instante citar um certo alguém. 
Algumas dores e decepções ajudam a crescer. Espero que o sofrimento sirva de algo para o país. Passei do tempo de ter ilusões em demasia. Agora surge ele, Marcos Valério,  que assustado com o destino começa a falar tudo o que sabe. Cansado de tudo conta a verdade e dá o nome aos bois, para desespero da estrela vermelha e seus seguidores. Aponta o dedo para o até então intocável chefão: Lula sabia, Lula controlava, Lula comandava o mensalão de dentro do Palácio presidencial. 
Isso todas as baratas tontas da corte sabiam, todas mosquinhas que voavam entorno do poder de Brasília sabiam. Os ratos de esgotos sabiam... todos: cobras, jacarés e elefantes sabiam que o Sapo rei roubava mais do que qualquer outro.  Sinto informar que o partido, os sindicatos, os intelectuais, a imprensa e o povo... até o povo sabia. Só que ninguém se importava, verdade seja dita. Todos são macunaímas de corpo e alma.
Espero que o manobrista do mensalão tenha tempo de depor em juízo e contar tudo o que sabe antes de ser morto. Se o país tiver esta sorte, ele conseguirá. Por muito menos (monetariamente falando) PC Farias morreu. Aguardando os gritos aloprados que virão... faz parte do show.
Se veremos o poderoso chefão na cadeia? Ah, não sei. Desconfio que muito dificilmente. Imagino que neste momento alguém esteja afogando as mágoas em litros de Château Lafite Rothschild. Faz tempo que a marvada 51 foi abolida na mansão dos Silva. Forbes é para quem pode.
Mas não custa sonhar com todos na prisão... em nome de um país melhor.
Perdoem-me se não tenho alma de Macunaíma. 
Sinto dizer que jamais a terei.



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