segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Valente?

O findi passou em meio a provas hípicas. Sabadão lindo com sol e reencontro com duas amigas queridas, dentre outras pessoas que não víamos faz tempos. Nessas horas vemos como os anos realmente estão voando. Jantar de aniversário da DE foi bom, a comida gostosa, só que todos estávamos cansados. Assim que deu fugimos para o lar doce lar, direto para cama macia que nos chamava há horas. A chuva veio só de madrugada e trouxe o frio já conhecido. No domingo... o ventinho e frio companheiro já dominavam a cena. Me despedi com o coração apertado de dois amigos. A filhota deles, única do casal (conheço desde baby), está com uma doença gravíssima. Não há muito o que fazer além de mostrar solidariedade e dar apoio. Será um luta longa para os três, uma provação e tanto. Mãe é assim mesmo, se arrepia junto, mesmo quando não é com a nossa filha. Eles ficaram de voltar, tomara que sim. De todo modo, vamos juntos para Brasília no ano que vem, então poderemos ajudar no que for preciso. Não há muito o que fazer além de avisar que o ombro amigo está desocupado e o abraço sempre a postos. A gente se sente tão pequena nesses instantes. Confesso que dormi mal pensando nisso. Quase agradeci pela baby one só ter esses pequenos problemas com o ouvido (apesar das duas cirurgias), é bom saber relativizar o quão grande são os desafios que enfrentamos. Não posso reclamar de nada, diante do que esses amigos estão passando e vão encarar ainda...


De noite fomos com as meninas assistir Valente, da Disney. Fui voto vencido, estava louca para ver Era do Gelo 4, rs. Sou fã da franquia Era do Gelo, riso garantido. Estava querendo um pouco de riso fácil. Nada errado, não é?
Gostei do filme Valente sim, mas fiquei com uns senões guardados... a ver. Tudo bem que o filme é basicamente sobre a relação mãe-filha e que visa dar uma amaciada nas feministas (acho que erraram a mão aí também), blá blá blá... mas precisa ser tão óbvio? Quer dizer, todos os homens do filme são uns idiotas completos, não tem um ali que não seja um clichê patético. Assim fica fácil se destacar. Aí fiquei encafifada... para uma mulher se destacar (no caso duas... pois a mãe e a filha são as donas do filme) os homens ao seu redor precisar ser umas bestas quadradas? É isso? Posso ter me enganado, mas parece que a mensagem (mal passada) é essa: uma mulher só lidera a cena (a história, a batalha, o trabalho, a vida...) se seus companheiros forem tapados completos. Disso não gostei não, não achei graça ou vantagem nenhuma. Não há glória nem valentia em se vencer numa situação em que não há oponentes qualificados. Ainda não tive tempo para discutir esse ponto de vista com as meninas, mas assim que der vou esclarecer como as coisas são. Na vida real, muitas mulheres importantes surgiram e tiveram que lutar e disputar espaço com homens igualmente hábeis e capacitados, e não com um monte de abilolados. Bem, isso é para outro dia.
Agora vamos ao tema principal, relação rainha-mãe-ursa (advinha se Amoremio já não está tentando me colocar apelidinho novo?) e filhota adolescente em ebulição. Antes de mais nada, vou avisando... amei a bonequinha da rainha-ursa Eleonor (pq traduziram o nome para Élida?!?! na minha listinha de nomes preferidos, esse seria o da minha quarta filha, depois de Catarina - a terceira). Quero umaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Bem, extravasado esse momento infantil-consumista-pavoroso conhecido como "caí nas garras da propaganda", vamos adelante, rs. Já viram que perco completamente a noção diante da tentações da Disney, é meu calcanhar de aquiles.

... (pausa) retomo o post em alguns minutos...


Retornando à programação normal. Voltei, galerinha!

Não importa se você é homem ou mulher, tudo que aprendeu sobre amor (certo ou errado) veio da sua mãe. Não estou exagerando, é assim mesmo. Talvez por isso Freud culpe tanto as mães, toda responsabilidade nas costas dela... a que gerou sua vida e ensinou o que é amar. As recordações mais profundas de uma pessoa, de sentir-se amado (ou abandonado) vem desse vínculo primordial. Claro que o pai tem importância, seu papel é também relevante, mas não me lembro de psicólogo nenhum julgando a culpa dos sucessos e fracassos de alguém nas costas paternas. Isso deve dizer algo, não? Mães e filhos vem travando verdadeiras batalhas dentro de casa, sem que estas sejam noticiadas no Jornal Nacional ou no Fantástico. Verdadeiras guerras onde se busca delimitar até onde o amor vai ou deveria ir.
Há limites para o amor materno? Há limites para qualquer tipo de amor? O amor pode ser limitado? Ou pode ser alcançado?
Amor com amor se paga? Existem dívidas com o amor? E quando falta amor? Uma mãe pode não amar seu filho? Um filho pode ser criado sem amor? Um ser humano pode sobreviver sem ter sido amado? Enfim... já sabem para onde remeter as cartas de reclamação: sua mãe.
Para o bem ou para o mal, a culpa é dela, da mamãe-urso.
Amou e protegeu demais? Culpada! Amou e deu liberdade? Culpada! Amou pouco? Culpada! Não amou ou bandonou emocionalmente? Culpada!
CULPADA!!! Sempre culpada. Dizem que quando uma mulher chega a entender sua mãe (suas ações e lições) já tem uma filha que não a compreende. Piada triste? Não, reflexo da realidade. A sina das mães é essa, pouco importa o que faça, não importa dizer que age com a melhor das intenções, é ser "a" responsável pela felicidade (passada, presente e vindoura) dos filhos. Não é trabalho fácil. Aliás, costumo dizer que maternidade não é trabalho, é escravidão: 24 horas no serviço, 7 dias por semana, sem férias ou feriado, e a aposentadoria chega (se é que chega) só com a morte. Sem remuneração ou reconhecimento (ok, tem cartão e presentinho no dia das mães). Fora a hora do tronco... mãe nasce para levar chibatadas, de todos os lados, sem dó.
A grande valentia do filme está em mostrar - ainda que de um modo caricato - a coragem dessas duas, mãe e filha, ao lidar com os limites de sua relação. Como é frágil o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. Experiência de vida versus a inata vontade de ir além, da curiosidade de buscar algo novo, de descobrir quem se é. E da coragem de cortar o cordão umbilical, sair do confortável (mas sufocante) seio maternal. Não é fácil para ninguém. Nem para os filhos, nem para as mães.
Especialmente para as mães, que sabem acima de tudo, que não importa o que aconteça... uma parte sua, a parte mais importante, agora vive e segue independente em outra pessoa. Coração de mãe não tem tamanho porque não conhece limite, bate no peito de cada filho gerado.
Não importa o tipo de mãe que você teve, pode ter sido protetora, libertária, abusiva, chantagista, caótica, alfa, egoísta, múltipla... uma coisa garanto: ela foi uma heroína. Fez o melhor que pode com o conhecimento que tinha e aprendeu o ofício... na marra, tentando, errando, experimentando do único jeito possível, com você, filho. Ao vivo, a cores e em tempo real. Essa dinâmica mãe-filhos acontece sem edições ou photoshop. Precisamos desse amor mais do que tudo, aprendemos a amar com ela... mas para nos tornarmos quem somos - um indivíduo - precisamos nos livrar de sua dependência. Sair do ninho, bater asas e voar. Hora difícil e delicada. Que mãe, não gostaria de manter para sempre seus bebês debaixo de suas asas, longe do mundo vil e perigoso? Que filho não quer descobrir esse mesmo mundo por seus próprios olhos? Uma hora haverá atrito... e a essa hora costumamos dar o nome de adolescência (ainda que tardia, em alguns casos - esses sim preocupantes).
Há coragem e valentia no filme sim, mas essa não está na relação mulheres versus homens, talvez por isso mesmo tenham feito os personagens masculinos tão bobos, para que não prestássemos atenção no que não importa. Essa não era a história que estava sendo contada. Isso era só o pano de fundo, como as belas paisagens e a suposta tradição, folclore e magia escocesa. O filme também não é um libelo feminista, ainda bem, pois se a proposta fosse essa teria falhado completamente.
O filme trata de um tipo diferente de coragem, a que é necessária para reconhecer o outro (seja a mãe ou a filha) como um ser independente, com vida, vontades, idéias e sonhos próprios. E como lidar com essa aparente ruptura.
A primeira lição: deixar o orgulho de lado.
A segunda: não há caminho fácil (mágica) que faça alguém mudar se esse mesmo alguém não quer ou não está disposto a evoluir.
A terceira (e mais importante): aprender a escutar a outra parte com AMOR.
A mãe deve compreender que seu filho não é sua cópia nem sua propriedade e que não poderá cuidar dele ad eternum. O filho(a) entender que liberdade se adquire com responsabilidade e respeito. E ambos finalmente saberão que o amor que os une não se acabará nunca, apesar das mudanças que ocorrerão.
Quem ama cuida, educa e depois... liberta.
Fazer um desenho animado sobre amor e maternidade exige valentia mesmo. Alguém já notou que em todos os contos de fadas a mãe morreu, sumiu ou simplesmente não tem importância? Valente resgata as mães do limbo cultural, vivas!
Viver exige corações valentes e muito amor.
Bravo!

Ah, última notinha: adorei a bruxa-carpinteira do filme, kkkkkkk. A cena do caldeirão-secretária eletrônica com atendimento automático ficou um show! "Se quiser ouvir sua mensagem em gaélico use a poção ...."

6 comentários:

  1. Gê,voltando aos filmes,a Era do Gelo 4 é o melhor de todos, na minha opinião...adorei! Não vi Valente ainda, mas com esse teu post,já fiquei curiosa e pretendo...ah, e sobre os nomes, Catarina era um dos nomes da minha listinha(é lindo,forte e chic!), qdo estava esperando a minha Alexia,minha baby 1,hoje com 17 anos..

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    1. Alexia é lindo, uau!
      Minha listinha: Walquíria, Raphaella, Catarina, Eleonora, Alexandra...
      Ainda bem que me contive e fiquei só com duas. Estaria louca com 5, kkkkk.

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  2. Vale dizer que, lendo o teu post, eu realmente fui transportada no tempo, praquele dia da feirinha, em que ficamos conversando atéééééé... um bom tempo?

    Putz, pode ser egoísmo meu, mas eu ia AMAR se vcs tivessem sido sorteados pra Curitiba!!!

    www.falagrasi.blogspot.com

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    1. Sôdades... não é egoísmo não. Meu coração balançou muito com a possibilidade de ir pra Curitibas. Beijão.

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  3. fiquei muito desesperada com duas coisas aqui - o panico ed que alguma coisa ruim possa acontecer com as minhas filhas - e a culpa pela referencia amorosa das duas...e se eu fiz tudo errado??? heim? hein?

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    1. Se vc fez? Quem não fez algo errado? Toda mãe do mundo. Sem exceção.
      Aceite, assuma e interiorize a culpa. Depois, ligue para o SOS-mamãe, tome duas doses de phoda-C (ou de vodka, escolha) e dance ao som de "tô nem aí..."
      Acabei de ter um stress com a baby one, e meti o pé na jaca. É fogo!!!

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