quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Maçãs simbólicas.

" A maçã, mesmo em nossos dias, nas escolas iniciáticas, é o símbolo figurado do conhecimento, pois, cortada em dois (no sentido perpendicular do eixo do pedúnculo), nós encontramos nela um pentagrama, símbolo tradicional do saber, desenhado pela própria disposição das sementes..."

by Robert Ambelain, em Sombra das Cadetrais


Faz tempo que a maçã é - literalmente - o pomo da discórdia. Na mitologia grega, o herói Páris, busca a imortalidade através dos pomos de ouro no Jardim das Hespérides. Jardim, maçã, imortalidade... isso soa familiar, não? A tradição judaica nos apresenta aquela que seria conhecida para sempre como a fruta da árvore do Conhecimento (ou da Vida, há variações de tradução) , a maçã consumida por Adão e Eva no Jardim do Paraíso, a do pecado original. Como sempre a culpa sobrou para mulher, Eva... e todas suas descendentes carregariam essa mácula por gerações e gerações. 
Que perigo tão grande se esconde por detrás desse simbolismo? Afirmar que o conhecimento humano - a capacidade de distinguir o bem do mal - é tão perigoso que provoca a queda do paraíso, separando-nos de Deus.
Na alquimia, o pomo de ouro, é também o símbolo do enxofre... Sentiu o mal odor vindo diretamente das profundezas? Enxofre = demônio.
O engraçado é encontrar também nas tradições celtas a ligação da maçã com o conhecimento, mais ainda... da ciência, da magia e da revelação. Ela é um alimento-prodígio, e seu consumo serve de preparativo para uma profecia. A lenda conta que a mulher (sempre ela!) do Outro Mundo vem buscar um herói de cem batalhas, Condle, filho do rei Conn e lhe dá de comer uma... maçã (isso está ficando maçante) que lhe serve de alimentação por um mês e nunca diminui. Dizem ainda que quem consumir a maçã divina nunca mais sentirá fome, sede, dor ou doença. A macieira por sua vez, é claro, é uma árvore do Outro Mundo, sacra e poderosa. Um ramo dessa árvore é enviado aos mortais por essa mulher antes de voltar para o além-mar. A mítica ilha de Avalon, morada final de reis e heróis como Arthur, é chamada de Emain Ablash (irlandês) e de Ynis Afallach (galês), que na tradução nada mais é do que pomar de macieiras. Merlin daria aulas sob uma macieira...
Há histórias de maçãs que envolvem até Alexandre, o Grande. Ao procurar a Água da Vida na Índia, o poderoso imperador encontrou maçãs que prolongavam em até 400 anos a vida de sacerdotes, era o fruto da juventude, da renovação e do frescor perpétuo. Uau!
Escandinavos consideram a maçã uma fruta regeneradora e rejuvenescedora, seus deuses comeriam maçãs e permanecem jovens até o ragna rok - o fim do ciclo cósmico atual.
Maçãs despertam desejo e causam problemas entre homens e divindades nas mais diversas tradições religiosas. Jeová (vide Velho Testamento) proibiu seu consumo e não foi à toa. Para uns, a forma esférica do fruto representa os desejos terrenos e a complacência humana diante desses desejos, a predominância do materialismo e do sensualismo sobre um estilo de vida mais espiritualizado, ou seja... uma regressão total ao que seria a evolução progressiva do ser humano. A advertência divina coloca o homem em uma encruzilhada, a escolha entre os desejos terrenos e o mundo espiritual.
Mais do que um símbolo do conhecimento, a maçã nos coloca um necessidade: a de escolher nosso caminho e assumir a responsabilidade por essa opção.
Adoro maçãs e tal qual Eva, não pensaria duas vezes antes de comer o fruto proibido. Não abro mão do conhecimento, não dispenso a ciência e tenho carinho demais pelo meu cérebro para deixá-lo de lado em nome de qualquer crença. Não adianta demonizar o conhecimento humano, foi o uso da nossa inteligência que nos trouxe até onde estamos. Aristóteles, Michelangelo, Issac Newton, Darwin, Jobs e muitos outros nada mais são do filhos da maçã de Eva.
Digamos apenas, que pago o preço, assumo o risco... mas como da maçã. Talvez porque seja mulher, talvez porque o gene da rebeldia esteja no meu sangue. Por isso e muito mais, prefiro ainda fico com o fruto da árvore do conhecimento do que com as trevas da ignorância mistificadora. Nada contra a busca espiritual, que acredito deva ser pessoal, mas... não creio que ela deva ser um entrave ao conhecimento. A ciência não é obra do capeta, nem deve ser vista como um entrave ao desenvolvimento moral do ser humano. Meu "Argh!" aos adeptos do obscurantismo que vêem no conhecimento obrigatoriamente um afastamento de Deus. Lutero é um desses que prega que quanto mais se estuda, menos se crê. Será?
Palpite bobo... sem a maçã acho que ainda estaríamos caçando na selva e morando em cavernas. A agricultura não foi uma invenção notadamente feminina? Aposta feita!

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