segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Somos todos âncoras

"Desde muito jovem mamãe levava-me aos velórios e sepultamentos de familiares e amigos. Percebi que este ato de amor atenuava o sofrimento das famílias enlutadas, era uma manifestação de consideração e respeito para quem partia, e um momento de reflexão sobre a importância e transitoriedade da vida, impelindo-nos a reavaliar valores, comportamentos e atitudes. Todavia, só quando se perde um ente querido e muito próximo é que se pode vivenciar o poder de cura que representam as orações, ligações, emails e presença dos familiares e amigos.  Obrigado a todos pelo bálsamo derramado sobre nossos corações, e principalmente pela solidariedade, consideração e respeito por minha mãe.

Somos todos, conscientes ou não, âncoras de nossos filhos e família. As mães em razão de seu amor incondicional são nosso eterno porto seguro. As âncoras sabem ouvir, educar, amar, e através dos seus valores e atitudes preparam seus filhos para que também sejam âncoras. Existem algumas cuja luz e evolução influencia toda família, o ambiente em que trabalham e a comunidade onde vivem.

Como cada um de vocês, tive a felicidade de conviver e aprender com as minhas âncoras. Clarimundo Ferreira (Tio Mundico), Chiquita Gambogi, Juvêncio Terra, Oscar Cardoso sempre me acolheram e     aconselharam com muito amor e sabedoria. Procuro, apoiando no alicerce erguido com que aprendi, com eles e com mamãe, ser um porto seguro pelo menos para minhas filhas. 

Durante o velório ouvindo os depoimentos dos familiares e de amigos dela, em todos os campos que atuou, ratifiquei o quanto foi boa, importante e útil para muitas pessoas, o quanto digna foi sua trajetória nos campos pessoal, familiar, espiritual e profissional, o quanto estendeu a mão e ajudou ao próximo. E eu, muito privilegiado, fui o centro e razão de sua vida. Se não aprendi o suficiente com os ensinamentos recebidos foi exclusivamente em razão das minhas limitações. Mamãe, formadora de âncoras, não perdeu uma oportunidade para me educar.

Acometida da doença, da qual teve conhecimento desde o início, jamais reclamou. Quando a neurologista solicitava que escrevesse
algo, invariavelmente registrava:
"Amo meu filho e ele é um bom filho".
 Repetiu essa frase muitas vezes enquanto pode.


Quando estive na administração do cemitério para pagar as taxas para o sepultamento mais uma aula, mamãe já havia pago tudo. Certamente o fez a mais de dez anos enquanto tinha saúde. Previdente nunca me deu qualquer trabalho ou despesa. 

Tenho certeza que se libertou de uma doença terrível e que no plano espiritual já foi acolhida com muito amor por espíritos de muita luz, seus pais, irmãos e todas as âncoras citadas. 

A dor nesses momentos é intensa. O coração aperta e as lágrimas correm. Mesmo inconsciente sua presença me confortava. Quando eu chegava tenso no IGAP com algum problema, saia sempre calmo e revigorado. Âncora ampara e conforta. 

Que Deus os abençoe.

Se preparem, somos âncoras."


by Roberto Cardoso, meu pai amado e minha âncora.

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