Lambendo as feridas

Lamber as feridas não é fácil. 
Sejam nossas ou alheias. 
Se for de alguém querido, ainda mais difícil. Tem dores que  gostaríamos que fossem nossas, ver quem se ama sangrar é pior do que quando o machucado é nosso.  Aceitar é só o primeiro passo do processo de cura. Ficar repetindo feito um robô catatônico que "não aconteceu nada" e "está tudo bem" revela apenas que ainda estamos na fase de negação. Fugir da dor não a diminui. Negar a necessidade de ajuda só agrava a condição da ferida. Só quando chegamos no momento do choro e nos damos ao direito de gritar e espernear começamos a melhorar... é um verdadeiro alívio botar tudo para fora. Dor não tem idade, desrespeita classe social, nível cultural ou experiência de vida. Quando chega, põe qualquer um abaixo sem se fazer de rogada.

Enquanto a ferida arde e o machucado está em carne viva... pouco se pode fazer, além de correr pro nosso porto seguro, pro nosso colo preferido. 
Nesse instante que se dane a compostura e os "outros".  Os outros, essa maldita instituição sempre a se meter, dar palpite e tolher nossa vida... detesto os outros tão cheio de opiniões e conselhos não solicitados. Os outros não sabem como é bom ter um colo para se sentar e chorar, um abraço apertado para se esconder do mundo naquele precioso momento... em que queremos que tudo o mais vá para o inferno. 
Viva o direito - inalienável - ao faniquito, ao destempero e ao descontrole total. Salve salve cada minuto de chilique e insanidade. Ninguém tem que suportar dor nenhuma estoicamente. Dói sim, e não nego. E gritarei se sentir que preciso. Ai de quem dizer que não posso ou não devo. 
Perdi um dos meus colos, e agora preciso de outro para me acalmar. Um colo para secar minhas lágrimas e dizer que...um dia tudo isso vai passar e que ainda vamos rir muito de toda essa loucura.